Um dia muito especial
Nos últimos dias, as mediações não vinham sendo nada fáceis. Alunos exaustos, dispersos, pouco interessados na visita e menos ainda na mediação. Talvez, seja a proposta das escolas em fazer muitos roteiros em um único dia. Aqueles que vem de outras cidades, então, chegam a passar pelo Museu da PUC e pela exposição da RBS, antes de chegarem ao Cais. Ou seja, muita informação gera desatenção. Claro que, também, tem um pouco de falta de preparo mesmo, de disciplina e tantas outras coisas que fazem com que a gente aprenda a ver arte, principalmente, arte contemporânea.
Bem, mas, hoje, foi diferente. Mal entramos no espaço e já deu para ver pelos olhares atentos e curiosos da minha turma de 3ª série, da escola Flores da Cunha de Esteio, que não seria tão difícil. Pretendia começar pelo núcleo do Waltércio Caldas, como já venho fazendo outras vezes, mas, acabei entrando com a turma pelo portão dos fundos. Chiuminatto ocupado, Alvaro Oyarzum idem. Iniciei a visita pela Letícia. Grande desafio. Mas, apesar dos olhares estranhos, eles começaram a participar. Quando falei que o nome de um dos artistas era igual ao do sabonete, eles sorriram. Sabiam do que eu estava falando. E, assim, nem o abstrato de Lux Lindner passou despercebido. O Pablo foi uma festa! Todos queriam dizer o que viam. Todos felizes por ver alguma coisa a mais. Por reconhecer elementos nas paisagens dele, do Couve, da Katie e até por achar os soldados em um dos livros da biblioteca. Nem preciso dizer que a Madalena encantou, mas, talvez deva esclarecer que a Josefina também teve seu crédito. Ninguém na espera? Ótimo. Hora de ver o "efeito dominó" de David e Peter, como eu os chamo. E assim fomos. Núcleo por núcleo e quando eu ia pular a Fernanda Laguna, o Fernando Lopes Laje estava ocupado e a professora disse: "podemos entrar ali". Respondi, sem tanto entusiasmo: "é...podemos". Sim, porque os mediadores também tem seus preferidos. Mas, não importa. Se o grupo quer, assim é. Depois, apesar do chuvisco, lá vamos nós para o A3 vendo o Guaíba. Alegria geral.
A esta altura todos já tinham coisas para dizer sobre o que viam. E pasmem: levantavam os dedos pedindo licença para falar. Lá pelas tantas, cheguei a desejar que não o fizessem, pois, pelo menos umas dez vezes, eu disse: "Fala, Jessica". Nome de uma das meninas atentas do grupo que tomava a frente dos meninos, também cheios de idéias e imaginação. Fizemos o percurso ficando mais tempo na frente de cada trabalho do que já havia ficado até hoje. E não é que quando pensei ter terminado a professora me pediu para levá-los até o banheiro? Mas, não se enganem. Não era lá nos banheiros "ecológicos". Era para ver a obra do banheiro! Bem, sairia do meu setor, mas, com aquela turma, acho que era mesmo minha obrigação. A essa altura já estava de mãos dadas com dois que, de vez em quando, eram obrigados a trocar de lugar para dar vez a outros dois. Alguns alunos passavam correndo, dispersos, por mim, mas, com certeza, não faziam parte do meu grupo da tarde de hoje. A professora até decidiu deixar a turma comigo, enquanto procurava o resto dos alunos e, eles, obedientes, foram ver Cildo Meireles a meu convite. Pronto. Chegaram no banheiro. Olhavam tudo. Comentavam comigo, achando graça, mas, atentos a todos os detalhes. O curador Gabriel estava lá neste mesmo momento. Espero que ele tenha conseguido ver como a turma estava se sentindo por estar ali, pois, deve ser uma satisfação bacana.
Hora de se despedir. As professoras agradecem felizes. Elogiaram meu trabalho e eu a turma delas. Foi uma renovação de energia que eu estava precisando. Energia, aliás, intensificada, por quase 20 abraços e beijos de cada aluno que fez questão de me dizer tchau! Lá se vão eles. Que sejam o espelho de outras turmas que estão por vir.
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