Não consigo entender porque tantos profissionais, como os professores, médicos, sem falar nos atores, precisam brigar para ganhar um salário mais decente, enquanto jogadores de futebol ganham milhões. Dito isso, começo a contar como foi o início das comemorações do meu aniversário no Beira Rio. Como tenho uma tia fanática pelo Internacional, meu time, pedi a ela como presente ir a um jogo. Quando contei para o meu sobrinho que iria, ele me perguntou contra quem iriam jogar, ao que eu respondi: “e eu sei lá?” Mas não é que eu não goste de futebol. Só não tenho acompanhado mais. Afinal, é um esporte para ser compartilhado e como meu irmão nunca se interessou muito e meu pai só via pela tv e faltam figuras masculinas a minha volta, há anos não ia a um estádio. Da última vez, tinha sido com a mesma tia. Lembro que, acostumada a ver futebol pela tv, fiquei distraída com a amplitude do lugar, as propagandas, as pessoas em volta. Desconcentrava dos jogadores.
Desta vez já não estranhei tanto. E, embora, talvez, não seja tão claro para mim a famosa regra de impedimento, não costumo errar nos meus comentários. Seguido digo exatamente a mesma coisa que aqueles que ganham (quase) bem para fazer isso. Enquanto aguardava minha tia e meu primo chegarem olhava as pessoas em volta e havia uma energia interessante. Todos com roupas na cor vermelha, que é a minha favorita, geravam uma harmonia, um sentimento de grupo, de uniformidade tranquilizadora. Entramos. Logo estávamos bem acomodados em cadeiras cobertas. Antes do jogo, o hino brasileiro. Depois, o hino do Rio Grande do Sul. Este sim cantado pelo público. Um coral de vozes que emociona antes mesmo da bola rolar.
O Internacional domina a partida já nos primeiros momentos. Começa a fazer várias tentativas de gol. As pessoas aplaudem, vaiam, cantam. Eu junto. Xingam o juiz de uma maneira...Profissão estranha essa. Uma multidão descontente com o teu trabalho...Deve ser horrível. Eu teria pesadelos. Eles devem usar parte do salário com terapeutas. Importante função também dos que atendem os jogadores machucados. Antes tinham que correr com uma maca para o meio do campo. Agora, entram um carrinho e traz o jogador para fora se for preciso. Todos sabemos o quanto pode custar a parada de um deles. Toda logística de um jogo é impressionante. Os fotógrafos e jornalistas em volta do campo. Os vendedores de bebidas e comidas que têm um tempo exato para repassarem seus produtos sem bloquear a visão da torcida. São muitas pessoas envolvidas. Na minha frente, uma senhora de mãos enrugadas, boné e colar de pérolas (que pareciam verdadeiras) levanta a cada lance importante e faz comentários com a torcedora do lado sobre o jogo. Atrás de mim, um cara grita palavrões terríveis, furioso. Assusta. Não acredito que ele seja diferente no trânsito, no dia-a-dia, nem mesmo com a própria mãe.
No campo, o Vasco não existe. O jogo segue cheio de lances do Internacional a gol sem nenhum resultado mas que geram muitos aplausos. Minha tia comenta a necessidade do time fazer um gol citando o pai (meu avô) que sempre dizia: “quem não faz, leva”. Fora do campo, observo o aquecimento de alguns jogadores. Fico exausta. É muita coisa para quem nem sabe se vai entrar. Quando o jogo começa a perder ritmo, a torcida se manifesta. Alguns pulam e gritam o jogo todo. Usando a melodia dos Mamonas Assassinas, uma parte de torcedores vai puxando a outra até que muitas vozes se unam causando um forte sentimento comum. Assim termina o primeiro tempo.
No segundo tempo, um amigo do meu primo vem sentar conosco. Não demora muito para fazermos o primeiro gol. Gritamos, cantamos, trocamos abraços, mas sabemos que não basta. A torcida volta a empurrar o time que faz o segundo gol. O terceiro sai já bem no final. Um outro amigo do meu primo já havia até ido embora. Na minha primeira forma de comemorar meu aniversário mais de 23 mil pessoas queriam o mesmo que eu: a vitória. Conseguimos. Saímos felizes. Aliviados. Do lado de fora um lindo por-do-sol tornava o céu vermelho.
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