Tuesday, November 30, 2010

A melhor viagem do mundo

Quando voltei de Buenos Aires em agosto  falei tão bem da cidade que mal tinha colocado o pé em POA, minha mãe disse: vamos comemorar meu aniversário lá? Como que eu ia contrariar esta idéia? Não é que quando a data se aproximou eu já estava louca para ir novamente? E com a tarefa de agendar as atividades dos quatro dias. Como boa libriana, tá aí uma tarefa que eu curto e levo a sério. Consegui passagens direto POA-Buenos Aires, pois acho muita sacanagem ter que ir a São Paulo primeiro. Fomos pela TAM o que nos garantiu um almoço (coisa que na Gol não tinha) e tvs. Ah, eu me divirto muito com imagens mesmo que seja um documentário sobre as ruas da cidade. Nosso hotel era na Carlos Pellegrini e tinha um preço ótimo para um quarto para as três: eu, minha mãe e minha irmã. É a rua do lado da 9 de julho, a rua do obelisco. Sem prédios separando nada. Só uma calçada. Ou seja, melhor localização, impossível. Sabia que podia pegar um taxi no próprio aeroporto e teria o preço certo. Só não imaginava que um dos encarregados sairia correndo na frente com as nossas malas e depois ficaria segurando a porta e pedindo gorjeta. Bem chato.


Instaladas fomos para em direção a Florida para pegar o ônibus turístico. Descobri em minha viagem anterior que era a melhor maneira de ir a todos os lugares principais sem ter que esquentar a cabeça por um único valor, durante dois dias. São 14 paradas, entre elas: Caminito, Porto Madero, Recoleta, Casa Rosada, Palermo, etc. Queria muito levar minha mãe que ama flores ao Rosedal, mas chegamos lá quase às 19h e já estava fechado. Tarde também para pegar o mesmo ônibus de volta. Assim, começava a aventura de ir atrás de um “colectivo” para voltar para o centro. Sem saber nem o preço da passagem, descobrimos que este deve ser pago com moedas, o que não tínhamos. O fiscal acabou deixando que andássemos sem pagar. Algo inusitado para a minha mãe. Pedi informações para descer com as indicações de 9 de julho e Corrientes e rapidamente descemos na região. Só que indiquei o lado oposto e caminhamos na direção contrária. Quando resolvemos perguntar novamente estávamos a sete quadras do nosso hotel. Parece mentira que em uma cidade com tantos pontos de referência isso ainda aconteça. O homem que nos indicou o caminho puxou papo. Disse que era jornalista. Ah...tinha que ser. Perguntou nossos nomes e quando decidiu dar um cartão de visita, olhava para a minha irmã e dizia: “eu vou estar neste número, viu?” (falava o nome dela). Foi uma cantada bem engraçada. Ostensiva e, ao mesmo tempo, não invasiva.

Dia seguinte vamos para o salão do café da manhã. Muitas medialunas de todos os jeitos. Biscoitos e pães com doce de leite. Assim como todo o resto de um hotel 4 estrelas. O interessante é que eles tinham uma bandeja na qual podíamos botar tudo que escolhêssemos, sem ter que ficar indo e voltando como costuma acontecer. Lá nos fomos pegar o ônibus turístico outra vez, pois nosso bilhete era válido por 48 horas. Não tinha mais certeza o que deveríamos ver. Mas queria retornar ao Caminito onde escolhi uma bolsa meses antes, mas a grana curta não me deixou comprar. Encontramos várias outras lembrancinhas bacanas. Perdíamos a noção das horas e quando voltamos ao ônibus achei melhor descer no Porto Madero, mas ir até a praça de maio almoçar em um lugar que já conhecia na esquina do Cabildo, um prédio branco histórico, lindo que fica em frente à Casa Rosada. Não foi exatamente barato, mas o lugar é maravilhoso. Voltamos para o hotel para descansar. Afinal, à noite havíamos feito uma reserva para o show de tango no La Ventana. Não é fácil escolher um desses lugares. Há muitos. Fui pelo preço e pela proposta. Sem jantar, mas com uma garrafa de vinho e alguns quitutes. Além do transporte de ida e volta. Minha mãe desceu sozinha no elevador que abria para os dois lados e não se deu conta de que estava de costas para a porta aberta na recepção. Eu a chamei e ela me respondeu de volta. Ainda olhando a porta fechada. Rimos. Quanto ao show, acertei em cheio. O lugar era lindo. A apresentação maravilhosa. Gente muito boa e muitos números. Um cantor e uma cantora ótimos. Vários casais de bailarinos e diversos figurinos. Só pensava em quantos chutes nas canelas até chegar aquele momento. Era impresionante. Mais uma orquestra e um número de boleadeira daqueles de arrepiar e vinho, muito vinho. Terminada a primeira garrafa, o garçon trouxe outra de cortesia. Isso sem saber que comemorávamos lá o aniversário da minha mãe. Voltamos para o hotel cansadas e felizes e precisando mesmo de um motorista.

Bem, teve a parte das compras na Lavalle e na Florida. Nada muito significativo pois a idéia era passear. Mas uns garfos maravilhosos para churrasco, a mala perfeita para uma viagem internacional e alguns presentinhos de Natal. Um café no Shopping Pacífico. E sem seguir a cronologia exata dos fatos, fomos ao Café Tortoni encontrar a Silvia, minha anfitriã da outra vez em que estive lá. Aliás, rever a cidade só me fez perceber ainda mais como ela havia transformado a minha viagem em algo tão prazeroso. Na praça de maio uma homenagem ao presidente Kischner reunindo diversas entidades do país. No local, uma faixa com uma frase para Cristina: “Te queremos como uma filha, te respeitamos como uma mãe”.

Dia seguinte, o primeiro dia nublado depois de dias esplendorosos de sol e céu azul. Encaramos o passeio até o Delta do tigre com o Trem da Costa. Passamos antes pela praça San Martin que traz fortes recordações das viagens em que meu pai estava presente, tanto para minha mãe, quanto para mim. Uma certa frustração ao rever a estação San Isidro. Na última vez, fervilhante de gente, de lojas e alegria. Dessa vez, com algumas excursões turísticas, muitos locais abandonados e um pequeno restaurante em funcionamento. Ainda há sinais da crise por lá. Na volta, um outdoor dizia: o melhor iogurte do mundo. Tirei até foto. Afinal, já havíamos reparado que para eles tudo é assim: o maior, o melhor, o mais antigo, o mais premiado...Eles adoram os superlativos! Tenho a impressão de que fazem até piadas de si mesmos...ou não.

Em nossas andanças, passando por um dos muitos teatros da Corrientes, um show do Djavan. Uma multidão na calçada para vê-lo. Argentinos. Enquanto descansávamos no hotel, muita programação em espanhol. A série Monk, filmes com Steve Martin e até Caminho das Índias. Tudo muito bem dublado (pelo menos parecia). Ah, não posso esquecer de contar que realizei meu sonho de falar francês na Argentina. No café da manhã, vários franceses conversando. Virava e mexia eu escutava o famoso: “Ah...bom!”

Na última noite, ao voltamos ao hotel, a rua 9 de julho estava fechada. Perguntamos o que haveria e como a resposta foi ballet, achei que o recepcionista tinha dito baile (verbo que eles usam para dança), mas estava errada. O grupo do teatro Colon (que aliás só vi de longe) fez uma apresentação ao ar livre do ballet La Traviata, com orquestra e tudo. Uma multidão na rua de todas as idades. Cadeiras e pais com as crianças nos ombros. Lindo. Os bailarinos víamos mais pelos 3 telões espalhados pela rua. É... o aniversário de “mi madre” não podia deixar por menos. Andamos no meio da rua mais larga do mundo (140 metros) sem pressa. Um jantar com uma porção gigante de batatas fritas e já era meia-noite. Nossa hora de dormir. A cidade segue fervilhante.

Um taxi chamado pelo hotel nos leva até o aeroporto de Ezeiza. Minha mãe é atendida por um rapaz que diz que as mulheres gaúchas são as mais bonitas do mundo. Quando libera o meu bilhete, diz que no mês que vem viria para cá. Esbarro nele novamente quando entro no avião, recolhendo os bilhetes. Brinco com ele que a cidade o espera. Bem, eu não conheço muitos lugares do mundo, mas que os Argentinos são muito lindos, isso são. Minha irmã diz que um terno e um jeito conquistador já faz a diferença.
O fato é que saio de Buenos Aires, pensando outra vez em retornar. Afinal, foi a melhor viagem do mundo!

 
PS: Encontramos também um professor da FAPA que eu e minha irmã reconhecemos de vista. O curioso é que ele viajou conosco na ida de na volta, sem termos combinado absolutamente nada. Só para a gente lembrar que a vida é cheia destes mistérios...

Thursday, November 18, 2010

Pronta para o acaso

Não sou exatamente uma pessoa que goste de surpresas, mas também não preciso de muito planejamento. Ultimamente, porém, ando reticente a convites de última hora. Bate a preguiça, desorganiza a agenda. Apesar disso, não sou de jogar fora oportunidades. Assim, quando minha cunhada ligou no final da tarde e disse que não poderia usar o seu ingresso para o show do Ivan Lins, eu topei. Confesso que não vibrei de cara com a oferta (vou ter que me redimir). Tinha acordado arrumadinha, mesmo achando que não sairia de casa e o urgente, urgentíssimo trabalho que fizera o dia todo bem que podia esperar algumas horas. Afinal, eu nunca tinha entrado no Bourbon. Achava sempre caro. Perdi as chances do POA em cena. Cá entre nós, é lindo.
Só quando cheguei é que vi  no ingresso: R$ 90,00. Ah, não teria pago isso mesmo, embora tenha ficado interessada quando li a notícia no jornal. Sempre gostei de Ivan Lins.  Além da voz, me parecia um cara alto astral, camarada, eu diria. Além disso, várias de suas músicas fizeram parte de momentos significativos da minha vida. Fato é que já tinha escrito até aqui enquanto as pessoas chegavam aos poucos no teatro. Mas chega de blá,blá,blá.  Preciso assistir ao show pra poder comentar.
Primeiro devo dizer que agora é oficial: envelheci. Ivan Lins está com 65 anos e eu o achei um gato. Uns quilos a mais de quando eu o “conheci”, mas ainda assim carismático e interessante. Se bem que tem muita gente nova que considera Sean Connery,  o máximo.  Bem, mas mal ele começa a cantar e voz suave enche o teatro. “O amor é o meu país...” Ele sempre cantou de um jeito que parecia fácil. Só ele para fazer melodia com biri-biri e dadaum. Já na segunda música ele pede para a plateia cantar um trecho.  Logo depois, ele fala que o show é em comemoração aos 40 anos de carreira, o mesmo tempo que tem o seu sucesso Madalena. Ele conversa com o público dizendo que era um compositor universitário quando Nelson Motta o encontrou e que foi Elis Regina quem gravou este seu primeiro sucesso.  Quem diria que ele também tinha tido alguns problemas com a censura? Bem, ele disse que foi chamado no DOPS, mas que no fim era por erros datilográficos que foram considerados um código.  Se bem que naquele contexto uma música que diz: “deixa, deixa, deixa dizer o que penso dessa vida, preciso demais desabafar” pode mesmo ser considerada subversiva. Aos poucos vou me dando conta que conheço mais o seu repertório do que imaginava e mais acho as letras realmente ótimas: “Não corra o risco de ficar alegre para nunca chorar...”, “Não fale do medo que temos da vida” e, realmente, agora  mais do que nunca Deus deve estar conosco até o pescoço.  Quase meio século de atividade e o cantor diz que precisa pegar o andamento de uma música nova, ganhando a simpatia do público. Lá pelas tantas chama Geraldo Flach no palco. Fazia séculos que não o via. De bengala, fragilizado, é aplaudido de pé pelo teatro lotado. O outro convidado foi Leandro Maia. Um novo talento, segundo Lins, garimpado na intrnet. O cantor gaúcho diz que agora só falta acertar na loteria. Entendo. Afinal, dividir o palco com alguém com tamanha experiência deve ser mesmo emocionante. Ele canta Paisagens e mesmo para quem foi assistir apenas a Ivan Lins ouvir este cantor deve ter sido um prazer. Linda voz.  Percebo que o fim se aproxima quando chega a hora de “Começar de novo...”. Eu que pensei que já tinha enjoado de ouvir esta música, me surpreendi.  E as letras fortes e poéticas continuam: “viestes com a cara e a coragem pra dentro de mim...”, “o amor tem feito coisas, que até mesmo Deus duvida”..., “Quero toda a sua vontade de passar dos seus limites e ir além...”Aplaudido de pé, ele volta para o bis. Canta mais uma música com Leandro Maia e ainda me impressiona com sua música: Bilhete. Quem diria...tantos anos depois e minha vida ainda “combina” com sua música...”e por fim nosso caso acabou, está morto”. Encho os olhos de lágrimas, enquanto me sinto aliviada pela capacidade de ainda me emocionar dessa forma. Exatamente como há quase 40 anos atrás.


PS1: Lembrei de Luis Claudio Conceição, meu amigo que era fã de Ivan Lins e que perdi o contato
PS2: Algo em Ivan Lins me lembra Julio Conte (espero que ele não se importe)
PS3: Lembrei de Mirna Spritzer, pois achei que ela gostaria do show

Monday, November 15, 2010

Museu da Língua portuguesa: vale muito a pena se a alma não pequena

Esta não é a primeira vez que falo do Museu da Língua portuguesa de São Paulo e, certamente, não será a última. A ida a este lugar já estava planejada desde que soube que iria estar na cidade. Assim, comecei a falar para outras pessoas que viajaram comigo e planejamos ir. Porém, como minhas colegas pretendiam também fazer compras na José Paulino, uma das ruas mais conhecidas por suas lojas de preços baixos que fica perto, quando chegamos na entrada já passava das 16h.
Sendo uma sexta-feira, véspera de feriado, a ideia era pegarmos o metrô o quanto antes, pois o movimento seria intenso. Resultado: só deu tempo de dar uma espiadinha na exposição temporária sobre Fernando Pessoa e assistir ao vídeo sobre a história da língua. Assim mesmo, minhas impressões favoráveis se mantiveram. Mais uma vez, achei muito instigante a forma que os curadores apresentam as informações, associando tecnologia e conhecimento. Textos “escritos” na areia, livros digitalizados e tantas outras coisas que provam que a cibercultura não só é possível como emocionante. Por falar em emoção, não sei porque ouvir Dorival Caymi cantar “Coqueiro de Itapuã, areia...” faz meus olhos ficarem cheios de lágrimas. Tem uma suavidade em sua voz, uma calma que contrasta com o mundo lá fora. Principalmente, quando se trata das ruas de São Paulo.
No mais, já tinha compreendido porque estar cercada de letras por todos os lados mexia tanto comigo. Inclusive já disse isso antes: visualizo a história da minha vida desde os meus seis anos, quando aprendi a escrever. Aos 10 já estava lá redigindo meus diários, falando de mim e dos meus sentimentos. Como agora. Por tudo isso, o tempo no museu foi pouco e quando surgiu a oportunidade de voltar no dia seguinte, não hesitei. Desta vez sabia que poderia ficar o tempo que quisesse e olhar com calma. Pelas paredes textos de Pessoa que podem ser mudados a partir de um gesto do próprio visitante. Uma mesa e cadeiras penduradas no ar junto a imagem do poeta. Pouco depois, a sala de espelhos onde eu e todos os visitantes podem ver sua imagem multiplicada, fazendo uma analogia aos heterônimos (personagens) de Fernando Pessoa. Sim, porque além de poeta, ele também foi capaz de criar várias personalidades e descrevê-las: suas características físicas, seus gostos, seus pensamentos, alguns muito famosos como: “todas as cartas de amor são ridículas”.
Um corredor inteiro para a sua cronologia. Muitos livros, muitos textos até sua última frase em Inglês: "I don't know what tomorrow will bring… " ("Não sei o que o amanhã trará"). Eu também não sei, mas pelo menos pude voltar ao Museu que tanto me impressionou há anos atrás e continuar achando que “tudo vale a pena se a alma não é pequena”.

Sunday, November 14, 2010

Vida de mestre

Como recém mestra pensei que seria importante ir a ABRACE e assim que soube que meu trabalho havia sido aceito, comecei as articulações para conseguir um lugar para ficar. Sem isso, as chances de estar em São Paulo por uma semana eram mínimas. Logo lembrei da colega de Artes cênicas que estava morando na cidade e que sempre me escrevia palavras de afeto, que sempre me tratava com uma gentileza que pouco se vê hoje em dia. Assim, alguns emails depois já sabia para onde ir. Quando cheguei em sua casa, aquelas palavras foram se transformando a cada dia em pequenos gestos de acolhimento e de carinho. A partir daquele momento, havia também aquele que ela escolhera para ser seu companheiro na vida e como não podia deixar de ser alguém amável e interessante com  quem a conversa fluiu rapidamente como se fossemos velhos amigos. Desse jeito, apesar do pouco tempo que passamos juntos, devido ao meu envolvimento com o evento, tive a oportunidade de estar próxima de duas pessoas que eu tenho certeza ainda terão muito a contribuir para aquele mundo melhor que todos queremos e, enquanto isso, eu aproveito para viver estes momentos tão especiais que dão a este título recém adquirido o sentido que eu queria: o de pertencer ao grupo de pessoas que amam a arte e a vida.

A Cyntia Muller e a Rodrigo Pessim o meu muito obrigada.

Wednesday, November 10, 2010

Abraçando São Paulo

Primeiro dia do evento da ABRACE - Associação Brasileira de Pesquisa em Artes Cênicas. Primeiro desafio: chegar a Barra Funda. Na véspera, meus amigos diziam que era muito fácil e não tinha erro. Esqueciam que estavam falando de mim que se bobear me perco até na minha cama. Mas, de mapa do metrô na mão, lá me fui rua acima. Dúvidas quando ela bifurcou. Outras, quando parecia distante, mas cheguei. Uma vez lá dentro, é tudo bem indicadinho. Se a gente sabe ler e presta alguma atenção, chega lá, mesmo trocando de linha, como foi o caso. Porém, quando cessam as informações para onde ir? Hora de perguntar e apesar da resposta meio inútil é o tempo de encontrar mais alguém perdido perguntando pela mesma coisa. Um paulistano. Então, melhor segui-lo. Missão 1, cumprida.

O lugar da abertura é muito bonito. Sento logo nas primeiras filas. Uma abertura rápida do pessoal da ABRACE (Maria Lucia Puppo e Luis Fernando Ramos) e sobe a mesa Sábato Magaldi e Jacó Guinsburg. Já tinha reparado no primeiro. Meu objeto de estudo. Fiquei emocionada. Era o encontro do pesquisador com o pesquisado, aplaudido de pé por um teatro lotado.

É Sergio Carvalho quem lê o texto sobre o crítico. Há poucos minutos estava ali do meu lado com umas folhas rasuradas na mão. Agora, está lá na mesa fazendo referência a um texto que Sábato escreveu sobre Décio de Almeida Prado, mas que, sem dúvida, poderia ser sobre ele mesmo. Carvalho obtém o equilíbrio perfeito entre informações histórias, curiosidades e afetividade.

A palestra é em francês, mas assim mesmo pego os fones. Sei bem que muitas vezes não se trata de entender a língua. Se o palestrante falar baixo, enrolado ou qualquer outra coisa, a tradutora tá lá para dar um jeito. Só que neste caso, não teve como. Tentei várias vezes acompanhar a linha de raciocínio do convidado, mas há divagação era grande e eu que amo a língua francesa não estava mais me divertindo com os leeee, laaaa que eles adoram. Jean François Peyret tinha a tarefa de falar sobre “Uma arte exposta a ciências”. Acho que a exposição causou danos porque ficou difícil de entender em françês ou português.

No caminho do almoço, esbarro em Edélcio Mostaço. Corro para abraçá-lo. Só tenho a agradecer a ele, inclusive por estar aqui. Do lado, Faleiro, outro professor que tem sido de uma gentileza quando me vê... Tantas caras conhecidas e importantes no meio da pesquisa teatral que me dou conta que as articulações de nossa coordenadora Marta Isaacsson e do restante do grupo tem sido realmente muito bem sucedidas. Afinal, o programa ainda é muito recente e nestes poucos anos já nos aproximou de outros que pesquisam há muito tempo.

Depois de alguns copos de champagnhe oferecidos pela ABRACE, um rápido almoço rodeada de colegas e professores, vamos para a palestra seguinte. Antônio Araújo diz que está nervoso e que por isso terá que ler. Mas o texto escrito é muito bom. Ele diz que pesquisar é jogar com o desconhecido. Parece bonito, mas dá muito medo. Pesquisar artisticamente é avançar aos tropeções em um interminável looping. É duvidar sempre e acreditar apenas por átimos. Perceber que não sabíamos que sabíamos. Mal-me-quer, bem-me-quer. A aventura do pensar fazer e do fazer pensar.
Sabia que deveria vir embora antes do final da tarde, mas me distrai. Acabei pegando a famosa hora de pique. Algo assustador. A mesma pessoa que está ali do seu lado esperando o metrô quando as portas se abrem, se transforma em um agressor. Não entrei no metrô. Fui empurrada e procurei não resistir. Foi ruim? Claro. Mas, felizmente, no meu caso é ocasional. Já pensou ter que passar todos os dias por isso?

No mais, hospedada na casa de amigos, muito bem acolhida transformando minha viagem em momentos ainda mais agradáveis. Coisa boa poder juntar conhecimento, novas experiências e amigos. É a minha paixão pelo teatro me proporcionando novas oportunidades.