Thursday, November 18, 2010

Pronta para o acaso

Não sou exatamente uma pessoa que goste de surpresas, mas também não preciso de muito planejamento. Ultimamente, porém, ando reticente a convites de última hora. Bate a preguiça, desorganiza a agenda. Apesar disso, não sou de jogar fora oportunidades. Assim, quando minha cunhada ligou no final da tarde e disse que não poderia usar o seu ingresso para o show do Ivan Lins, eu topei. Confesso que não vibrei de cara com a oferta (vou ter que me redimir). Tinha acordado arrumadinha, mesmo achando que não sairia de casa e o urgente, urgentíssimo trabalho que fizera o dia todo bem que podia esperar algumas horas. Afinal, eu nunca tinha entrado no Bourbon. Achava sempre caro. Perdi as chances do POA em cena. Cá entre nós, é lindo.
Só quando cheguei é que vi  no ingresso: R$ 90,00. Ah, não teria pago isso mesmo, embora tenha ficado interessada quando li a notícia no jornal. Sempre gostei de Ivan Lins.  Além da voz, me parecia um cara alto astral, camarada, eu diria. Além disso, várias de suas músicas fizeram parte de momentos significativos da minha vida. Fato é que já tinha escrito até aqui enquanto as pessoas chegavam aos poucos no teatro. Mas chega de blá,blá,blá.  Preciso assistir ao show pra poder comentar.
Primeiro devo dizer que agora é oficial: envelheci. Ivan Lins está com 65 anos e eu o achei um gato. Uns quilos a mais de quando eu o “conheci”, mas ainda assim carismático e interessante. Se bem que tem muita gente nova que considera Sean Connery,  o máximo.  Bem, mas mal ele começa a cantar e voz suave enche o teatro. “O amor é o meu país...” Ele sempre cantou de um jeito que parecia fácil. Só ele para fazer melodia com biri-biri e dadaum. Já na segunda música ele pede para a plateia cantar um trecho.  Logo depois, ele fala que o show é em comemoração aos 40 anos de carreira, o mesmo tempo que tem o seu sucesso Madalena. Ele conversa com o público dizendo que era um compositor universitário quando Nelson Motta o encontrou e que foi Elis Regina quem gravou este seu primeiro sucesso.  Quem diria que ele também tinha tido alguns problemas com a censura? Bem, ele disse que foi chamado no DOPS, mas que no fim era por erros datilográficos que foram considerados um código.  Se bem que naquele contexto uma música que diz: “deixa, deixa, deixa dizer o que penso dessa vida, preciso demais desabafar” pode mesmo ser considerada subversiva. Aos poucos vou me dando conta que conheço mais o seu repertório do que imaginava e mais acho as letras realmente ótimas: “Não corra o risco de ficar alegre para nunca chorar...”, “Não fale do medo que temos da vida” e, realmente, agora  mais do que nunca Deus deve estar conosco até o pescoço.  Quase meio século de atividade e o cantor diz que precisa pegar o andamento de uma música nova, ganhando a simpatia do público. Lá pelas tantas chama Geraldo Flach no palco. Fazia séculos que não o via. De bengala, fragilizado, é aplaudido de pé pelo teatro lotado. O outro convidado foi Leandro Maia. Um novo talento, segundo Lins, garimpado na intrnet. O cantor gaúcho diz que agora só falta acertar na loteria. Entendo. Afinal, dividir o palco com alguém com tamanha experiência deve ser mesmo emocionante. Ele canta Paisagens e mesmo para quem foi assistir apenas a Ivan Lins ouvir este cantor deve ter sido um prazer. Linda voz.  Percebo que o fim se aproxima quando chega a hora de “Começar de novo...”. Eu que pensei que já tinha enjoado de ouvir esta música, me surpreendi.  E as letras fortes e poéticas continuam: “viestes com a cara e a coragem pra dentro de mim...”, “o amor tem feito coisas, que até mesmo Deus duvida”..., “Quero toda a sua vontade de passar dos seus limites e ir além...”Aplaudido de pé, ele volta para o bis. Canta mais uma música com Leandro Maia e ainda me impressiona com sua música: Bilhete. Quem diria...tantos anos depois e minha vida ainda “combina” com sua música...”e por fim nosso caso acabou, está morto”. Encho os olhos de lágrimas, enquanto me sinto aliviada pela capacidade de ainda me emocionar dessa forma. Exatamente como há quase 40 anos atrás.


PS1: Lembrei de Luis Claudio Conceição, meu amigo que era fã de Ivan Lins e que perdi o contato
PS2: Algo em Ivan Lins me lembra Julio Conte (espero que ele não se importe)
PS3: Lembrei de Mirna Spritzer, pois achei que ela gostaria do show

No comments:

Post a Comment