Wednesday, December 10, 2008

Falando de pretensão

Escolhi como tema para a minha pesquisa de mestrado a crítica teatral. Não foi uma escolha ao acaso. Como jornalista e apaixonada por teatro, esta questão estava sempre presente. Creio que nem preciso dizer que logo percebi a grande lacuna que há no Rio Grande do Sul em relação a este tema. 

Bem, o primeiro ano de mestrado já está no fim e confesso que não foi um período fácil. Do meu projeto, apresentado para seleção dos escolhidos para fazer o mestrado, até agora, muita coisa mudou. Meu primeiro contato com o meu orientador Edélcio Mostaço foi interessantíssimo e impactante. Enquanto o escutava falar com tanta propriedade, via minhas questões sobre quem deveria fazer crítica, quais eram os critérios da crítica, etc, etc, caírem por terra. Precisávamos falar na morte da crítica. Ou seja, meu projeto era um natimorto. Embora o trabalho ainda nem tivesse começado não me parecia, naquele momento, tão simples mudar a rota. E agora? Pensei. Mas, tive a humildade de não rebater os aspectos que estavam sendo apresentados por uma pessoa que subiu aos palcos, exerceu a crítica por muitos anos e obteve reconhecimento nacional. Não seria pretensão. Não seria ousadia. Seria burrice.

 

Então, tudo o que tinha a fazer era recomeçar com outro olhar o meu trabalho e foi, então, que ele se tornou ainda mais atraente. Hoje, 10 meses depois, vejo que meus questionamentos eram ingênuos, que não estava dando a atenção a questões mais importantes do que o como fazer crítica. Que é preciso discutir o por que e o quem a fará. Ainda é muito insipiente a minha pesquisa (em março, achava que já estaria com tudo quase pronto), mas, olhando a história da crítica pude concluir que estas idéias que temos sobre quem pode fazer crítica é algo que nos foi imposto. No início, a crítica era uma voz que questionava o poder reinante, mas, depois, ela passou a ser este poder. Chegou um momento em que os acadêmicos estabeleceram diversas regras, estilos e sabe-se lá mais o que para julgar, avaliar o que era posto em cena.   que por mais que os fazedores de teatro se sintam abalados com o que é escrito sobre o seu trabalho, trata-se de uma ilusão achar que isso, hoje em dia, influi na quantidade de público. São outros fatores. Talvez, até as fases da lua...Ok. Exagerei. Mas, não são as críticas. Ao contrário, quantos exemplos temos de que críticas extremamente negativas levam a platéias cheias? Imagino que isto ocorra justamente porque as pessoas não querem que alguém julgue as coisas por elas. Querem ter suas próprias opiniões. E eu, acho isso ótimo. Ainda não tenho a menor idéia de que rumo a minha pesquisa irá tomar no futuro. 

Mas, percebo e acho engraçado que algumas pessoas tentem defender uma reserva de um mercado que nem existe: o dos críticos. Dizem que não pode ser qualquer um a comentar, mas, sabem definir o que este qualquer um deveria saber para ser aceito? O levantamento que fiz até agora de todas as pessoas que mantém algum espaço com críticas de teatro em blogs, sites, comunidades, são de pessoas que estão relacionadas com a arte, que estudaram estes temas, que atuam na área e por aí vai. O que não deveria surpreender ninguém, pois, quem iria se dispor a escrever sobre teatro sem ser alguém que se interesse muito por ele? Tem que ter disponibilidade para ir assistir aos espetáculos e depois ter a paciência e a coragem de escrever sobre. Definitivamente não é para qualquer um. Assim, não vejo porque o temor. Além disso, acredito (até prova em contrário) que uma boa forma de manter esta arte viva é falando e escrevendo sobre ela.  Os meios virtuais facilitaram isso. Que prejuízo isso pode causar, afinal? Manter o teatro em uma redoma, intocável e indiscutível e acessível somente a eleitos é matar a sua essência.  Para mim, o crítico é mais um expectador e quem faz teatro sem querer ter o retorno do que está fazendo está no rumo errado. 

Décio de Almeida Prado, considerado um dos maiores críticos do Brasil, escreveu uma carta de despedida, dizendo que não tinha mais como criticar o teatro que estava surgindo onde todos os parâmetros estavam desaparecendo e encerrou sua carreira. Pode-se concluir daí, que esta tarefa ficara ainda mais difícil e que tenha surgido, a partir deste momento, todo este caos sobre a crítica. 

Estou sendo muito pretensiosa com o título: A crítica teatral na era digital – da poética a cibernética, mas, tenho consciência disso e estou pronta para correr os riscos. No entanto, não tenho muito a perder. Lá se vão mais de 20 anos quando ainda estava começando a tentar achar meu lugar no mercado (coisa que continuamos fazendo sempre), mas, já não há mais porque não ousar, não provocar polêmica. Foi esta maneira que conquistou o diretor da Aliança Francesa de Porto Alegre que me abriu o espaço no site www.afpoa.com.br para o que ele chamou La Chronique d'Helena, onde falo sobre a cultura francesa, outro tema que me apaixona. 

Nas pesquisas que fiz, recebi respostas maravilhosas, de gente muito reconhecida no meio teatral e acadêmico, doutores, mestrandos, atores globais, etc,etc, mas, também tive dois críticos que se manifestaram negativamente. Um apenas disse que não responderia a SPAM (?) e outro ficou chocado com a contundência do meu título e disse: “Mas, o que é isso? O teatro é mais gentil.” 

Bem, o teatro eu não sei, mas, os espaços virtuais acho que devem ser. Sou totalmente contra usá-los para denegrir a imagem de quem quer que seja.  Fora isso, fico bastante feliz quando tenho retorno ao que escrevo aqui, pois, antes, tudo acabava guardado em minhas gavetas e eu perdia a chance de compartilhar com outros idéias e pensamentos, o que acho muito enriquecedor e estimulante. 

2 comments:

  1. Helena,
    Muito interessante teu post.
    De inicio, pra mim, já cumpre sua função. Refletir. Repensar.
    Autocrítica.
    Me questiono: o que me faz criticar algo?
    Gosto? Um pouco. Estética? Talvez.
    Mas ainda acho que minha opinião a respeito de algum espetáculo que assisto vai além de tudo isso. É lógico que passa pelo subjetivo, senão estaríamos falando de outra coisa que não arte.
    Mas acima de tudo, antes que eu me disperse mais, e porque ainda não tenho opinião formada sobre “quem eu acho que poderia fazer crítica teatral”, acho que o que mais falta é humildade e autocrítica de quem faz teatro. Pois já li muitas críticas negativas muito coerentes. De trabalhos meus e de outros. E não estou dizendo amém às criticas. Nem as condenando por completo. Pois acredito que dos dois lados falta imparcialidade, desprendimento, entrar na pele do outro (proposta cênica/personagem e platéia).
    Outra coisa que me ocorre falar e me incomoda seguidamente: desinformação. Quando assumida, me agrada, pois leio a visão de alguém desprovido de pré-conceitos e que bem poderia ser representante de uma parcela do público. Mas desinformação mascarada de intelectualismo é sofrível.
    Bem... Muita coisa misturada na cabeça...
    Vou alimentar essa reflexão sadia, e parabéns pela tua pesquisa. Realmente... tens pano pra manga aí. Boa sorte.

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  2. Gostei muito de tudo que tu disseste. Estou interessada, inclusive, em te mandar o questionário da minha pesquisa para que tu respondas. Com certeza, seria útil para mim.

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