Saturday, June 11, 2011

Entre o velho e o novo... fica a vontade de ver de novo

Confesso. Vou ver o grupo Farsa procurando achar defeitos e problemas no espetáculo. Por que? Porque tenho na minha mente de jornalista a busca pela  imparcialidade. E como tenho uma queda pelo Molière por ser francês, sou amiga de quase todos no elenco, do diretor e uma forte tendência a já gostar do que eles fazem sem ver, fico lá catando alguma coisa mal feita. Pura perda de tempo.
Cheguei a estranhar a luz para depois perceber que era uma escolha pensada e propositalmente usada de modo muito inteligente. Assim como outros recursos que prefiro não comentar para não estragar as surpresas. Mas, imaginem que o figurino é basicamente preto e branco e que o cenário é praticamente vazio. Algumas cadeiras, uma mesa... e que os atores, várias vezes, se posicionem no palco como na época do classicismo francês: de frente para o público, os pés fixos, movimentando basicamente a parte superior do corpo. Quando estudei isso, imaginava que devia ser terrível. Não com este grupo. Muito pelo contrário. Toda esta marcação, precisa, demonstra o quanto de trabalho tem por trás e acaba tornando a encenação ainda mais engraçada. O que, aliás, não é nada difícil com Lucia Bendati no elenco. Agora quem recebeu de presente um ótimo personagem foi Ariane Guerra. Isso, porém, não quer dizer que ela não tenha o incrível mérito de ter aproveitado da melhor maneira possível. Ela se sobressai mesmo sem estar no foco. Não chega a roubar a cena porque esta é outra boa característica do Farsa. Eles são generosos uns com os outros.  Não há disputa. Eu diria até que é possível sentir a satisfação que um tem quando vê que o outro está se saindo bem no palco. Como Elison Couto que, como Tartufo, mostra o seu lado camaleão deixando totalmente para trás o avarento do último espetáculo e assumindo o safado e inescrupuloso papel escrito pelo dramaturgo francês. E o Grupo Farsa prova, mais uma vez, que ator não tem idade. Pode ser filho, mãe, neto. Se for bom, vai convencer. É isso que faz Laura Leão no papel de mãe do personagem de Marcos Chaves. Este, além de atuar em um papel bem diferente do que fazia  no Avarento, ainda é o responsável pela parte musical do espetáculo. Parte importante, inclusive, que coloca uma banda no palco e que traz contemporaneidade à obra do século XVII. Em 1664, Tartufo quase foi proibida pelos devotos da época, influentes no reino de Luis XIV que sentiram ofendidos pelo espetáculo. A peça, considerada uma das mais famosas de Molière e que provocou o surgimento até de novos adjetivos, segue muito atual já que é uma crítica à hipocrisia, à falsidade, escondida sob a religião. Afinal “tartufice” é o que não falta por aí. Felizmente, o grupo não passou pelas mesmas dificuldades de Molière que foi obrigado a muitas tratativas com o rei para conseguir que sua peça continuasse a ser encenada.
Essa possibilidade de fazer rir mas também denunciar deve provocar ainda mais prazer em Gilberto Fonseca que, além de diretor, é também educador e crítico do papel da arte na sociedade atual. Lembro dele inquieto com a falta de valorização da arte, se questionando sobre continuar ou não a fazer teatro. Não sei se Gilberto ainda se pergunta sobre isso. Provavelmente sim, pois é uma das maneiras de continuar fazendo coisas boas, mas eu não me pergunto mais porque vou assistir. E olha que ainda não desisti de ser imparcial porque, pensando bem, Tartufo está tão lindo naqueles ternos...

1 comment:

  1. Helena querida, que delícia de texto. agradeço de coração tua presença sempre sorridente. Obrigada pela tua apreciação. Grande beijo!

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