Já comentei outras vezes que, embora tenha decidido estudar teatro, sou apaixonada por cinema. A justificativa é que quando um filme é ruim eu não chego a sair antes, mas não fico constrangida. No caso de um espetáculo, sim. Porém, não há nada comparado ao teatro quando este é bom como no caso de Rei Cego, do Teatro do Clã. Tenho tido preguiça de assistir. A correria anda grande e foi assim, meio devido à obrigação, que fui parar na platéia deste espetáculo. Ainda bem.
Outro dia, ouvia de um amigo, também com formação em Artes cênicas, que as pessoas estavam esquecendo de que o teatro tinha que contar uma história. Não queria criar conflito, mas, por dentro pensei: não concordo com isso. Já assisti a muitos espetáculos que me provocaram experiências interessantíssimas, mas que saí sem saber do que se tratava exatamente. A arte contemporânea tem uma proposta diferente em relação a isso.
O Rei Cego conta uma história. Daquele gênero de “capa e espada” que eu ouvia quando era pequena. De heróis e bandidos, de homens bons e maus, de gigantes e mistério. Não é, no entanto, uma história surpreendente, impactante. Nada disso. Uma história simples. Porém, a forma como ela é contada é que merecia o meu “bravo” no final. Por quê? Bem, vejamos. O cenário é simples. Entretanto, nos levam a imaginar vários lugares e permitem aos atores todos os deslocamentos necessários para nos convencer daquilo que está sendo dito. Não é realista, mas concretiza para os espectadores todas as imagens que dão ritmo a atuação do elenco. Por falar neste, está composto por três atores e atrizes que fazem vários papéis (nove personagens) e todos convincentes. É um elenco parelho. No bom sentido do termo. Ninguém se destaca, mas todos impressionam e conquistam o público. Não é para menos. Eles cantam, dançam, fazem piruetas e... atuam. O texto é dito claramente, expressivamente. Todos os movimentos são sincronizados e executados com perfeição. Nada nem ninguém entra ou sai da cena por acaso. E assim, eles vão conduzindo a plateia pela passagem do espaço e do tempo, estabelecendo uma dinâmica leve e contundente ao mesmo tempo. Em destaque, ainda, os elementos cênicos como “o gigante” que aparece e desaparece com simples movimentos dos atores, dois braços e uma cabeça. Ah, às vezes, esqueço do figurino. Justamente quando ele é adequado, correto e auxiliam a tornar os atores os personagens que eles representam. O mesmo acontece com a luz. O espetáculo tem uma dinâmica que só um bom diretor pode garantir. Difícil acreditar que seja o primeiro espetáculo do grupo. Que ótimo que eles tenham sido escolhidos pelo Projeto Nova Coras e, nestas horas, quer dizer 55 minutos, tenho a certeza de que nenhum filme valeria tanto a pena.
Sei que, enquanto diretor do referido espetáculo, sou suspeito para falar, mas quero agradecer profundamente pela crítica, e ressaltar a importância deste tipo de iniciativa para um grupo que começa a sua caminhada como o nosso. Meu sincero agradecimento!
ReplyDeleteCássio Azeredo - Teatro do Clã
Recebo essa crítica como um presente inesperado. São palavras que nos motivam a trabalhar cada vez mais.
ReplyDeleteObrigado Helena!
Marcos Cardoso - Teatro do Clã