Quando fui assistir A Comédia de Erros da Adriane Mottola, um dos pontos altos do espetáculo foi Lauro Ramalho dando o texto de abertura. Agora, encontro no Orkut dele as palavras de Win Wenders. E vem a minha mente o jeito de dizer do Lauro. Especial, sem dúvida. De qualquer forma, publico aqui para que mais gente possa ter acesso.
Pretensiosa...
Texto de Win Wenders
VOCÊ MORA ONDE MORA,
FAZ O SEU TRABALHO,
VOCÊ FALA O QUE FALA,
COME O QUE VOCÊ COME,
VESTE AS ROUPAS QUE VESTE,
OLHA PARA AS IMAGENS QUE VÊ...
VOCÊ VIVE COMO PODE VIVER,
VOCÊ É QUEM VOCÊ É.
IDENTIDADE DE UMA PESSOA,
DE UMA COISA, DE UM LUGAR
IDENTIDADE, SÒ A PALAVRA JÁ ME DÁ CALAFRIOS.
ELA LEMBRA CALMA, CONFORTO, SATISFAÇÃO.
MAS O QUE É A IDENTIDADE?
CONHECER O SEU LUGAR?
CONHECER O SEU VALOR?
SABER QUEM VOCÊ É?
COMO RECONHECER A IDENTIDADE?
CRIAMOS UMA IMAGEM DE NÓS MESMOS
E ESTAMOS TENTANDO NOS PARECER COM ESSA IMAGEM...
É ISSO QUE CHAMAMOS IDENTIDADE?
A RECONCILIAÇÃO ENTRE A IMAGEM QUE CRIAMOS
DE NÓS MESMOS E...NÓS MESMOS?
MAS QUEM SERIA ESSE NÓS MESMOS?
NÓS MORAMOS NAS CIDADES,
AS CIDADES MORAM EM NÓS
O TEMPO PASSA...
MUDAMOS DE UMA CIDADE PARA OUTRA,
DE UM PAÍS PARA OUTRO.
TROCAMOS DE IDIOMA, TROCAMOS DE HÁBITO,
TROCAMOS DE OPINIÃO, TROCAMOS DE ROUPA,
TROCAMOS TUDO, TUDO MUDA E RÁPIDO,
SOBRETUDO AS IMAGENS.
ELAS MUDAM CADA VEZ MAIS RÁPIDO
E SE MULTIPLICAM NUM RITMO INFERNAL
DESDE A EXPLOSÃO QUE DESENCADEOU AS IMAGENS
ELETRÔNICAS, AS MESMAS IMAGENS QUE AGORA
ESTÃO SUBSTITUINDO A FOTOGRAFIA,
APRENDEMOS A CONFIAR NA IMAGEM FOTOGRÁFICA.
PODEMOS CONFIAR NA ELETRÔNICA?
NO TEMPO DA PINTURA TUDO ERA SIMPLES:
O ORIGINAL ERA ÚNICO E TODA CÓPIA ERA UMA CÓPIA,
UMA FALSIFICAÇÃO.
COM A FOTOGRAFIA E O CINEMA,
A COISA COMEÇOU A SE COMPLICAR.
O ORIGINAL ERA UM NEGATIVO.
SEM UMA AMPLIAÇÃO, SÓ EXISTIA O OPOSTO.
CADA CÓPIA ERA O ORIGINAL.
MAS AGORA, COM A IMAGEM ELETRÔNICA E COM A DIGITAL,
NÃO EXISTE MAIS NEGATIVO, NEM POSITIVO.
A PRÓPRIA IDÉIA DE ORIGINAL FICOU OBSOLETA.
TUDO É CÓPIA.
NÃO ADMIRA QUE A IDÉIA DE IDENTIDADE
ESTEJA TÃO ENFRAQUECIDA.
A IDENTIDADE ESTÁ FORA. FORA DE MODA.
Texto extraído do documentário “CADERNOS E NOTAS SOBRE ROUPAS E CIDADES” (1989).
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