Eu devia ter desconfiado quando,
depois de comprar o último CD do Caetano só consegui ouvir uma vez. Mas, depois de tantos anos, ficava difícil
acreditar que eu não tinha gostado de suas músicas. Assim, decidi ir ao show.
Araújo Viana lotado. Pessoas de todas as idades. Porém, já estava na metade do
show e eu , sentada, perguntando a mim mesma: será que o nosso amor acabou?
Depois de me conscientizar de que
devia ser proibido, proibir e me encher de vontade de sair por aí sem lenço e
sem documento, será que um dos meus ídolos da adolescência havia seguido o seu
caminho sozinho? Escondido segredos embaixo dos caracóis dos seus cabelos? Ele,
que me apresentou a um estado de transcendência cantando Um índio, que
acariciou meu coração com a suavidade de sua voz com Kalu? Que cantou em
inglês, espanhol e até em francês? Que reforçou minha autoestima toda vez que
cantava Você é linda? Que me deu uma das melhores lembranças da minha vida ao
ver um dos caras mais interessantes da turma cantar Leãozinho prá mim no meu
aniversário? Que idade eu tinha, mesmo? Não lembro. Em algum ano da década de
80. O mesmo que traduziu tantas emoções que a paixão pode provocar cantando
Tantas Palavras... Que me estonteava com demonstrações da riqueza da nossa
língua. Não, eu não conseguia acreditar que todas aquelas músicas que embalaram
por anos tardes, noites manhãs faziam parte do passado. Então, pensei que,
talvez, fosse a distância e fiz questão de me aproximar e, por alguns minutos,
enquanto eu via o seu rosto e o seu sorriso, eu voltei a reconhecê-lo. Mas,
durou pouco. Logo em seguida, vieram àquelas músicas, cujas letras já não
parecem apresentar a mesma poesia, que tem um tom amargo, um arranjo de notas
por vezes arrastado e eu só pensava: não enche. Porém, quando eu já estava
quase desistindo, chegando até a olhar o relógio, veio uma melodia do passado e
outra e outra. E a plateia, que até então, estava praticamente inerte começou a
reagir e eu até dancei na cadeira enquanto ele cantava “de noite na cama eu
fico pensando...”. Eu também pensei. Pensei que não podia jogar fora uma
história tão antiga, uma história que provoca tantas lembranças incríveis, que
me reportam a uma época em que eu descobria o amor, a mim mesma. E, assim, me
dei conta, Caetano, que não, eu não te odeio. É apenas uma crise. Afinal, eu
ainda desejei ter sido uma das pessoas que tocou a tua mão e ainda quero que
seja prá mim que tu cantas “e quero que você venha comigo”. Então, eu peço
desculpas se, nesse momento, não estamos tão sintonizados. Aconteceu algo assim
com Circuladô e Tropicália e, hoje, isso está superado. Assim, volto prá casa,
sentindo que depois de mais de 30 anos, a paixão, talvez, tenha acabado, mas o
amor, esse não se despreza.
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