Wednesday, April 10, 2013

Anna Karenina: Uma nova linguagem cinematográfica para um clássico da literatura



Bem feito para mim. Não gosto de ler nada antes de ver um filme. Nenhum comentário, sinopse. Crítica, muito menos. Mas, ouço rumores e foi assim que fui parar no cinema para assistir Anna Karenina. Embora esse nome tenha estado presente durante grande parte da minha vida como uma personagem do livro de Tostoi, nada sabia sobre ela.  O livro está por aqui em uma das prateleiras, mas é só. Sendo assim, os primeiros minutos do filme foram de puro estranhamento. Eu adoro cinema. Tenho o mesmo sentimento pelo teatro, mas quando essas duas coisas se misturam não é assim tão fácil de absorver. Woody Allen gosta de fazer isso, mas enquanto o assunto é comédia, minha aceitação é mais tranquila, sem resistência, o que não é o caso.
Se partirmos do princípio que para ser teatro é preciso corpo presente, troca entre atores e plateia, não é disso que eu estou falando. Mas então porque a gente vê como teatrais movimentos que não correspondem aos fatos? Portas que se abrem levando para lugares improváveis, gestos, movimentos totalmente fora do cotidiano. Também não dá para ignorar que muitas cenas são feitas no ambiente de um edifício teatral, com abertura de cortinas e tudo mais. Junta-se a isso uma fotografia de contrastes entre cores, uma luz que dá foco artificial em algum objeto ou personagem, contextualizando a cena e eu reconheço elementos cênicos ali. Daqueles que transformam uma cena de capinar, de trabalho braçal uma das imagens mais poéticas que já vi.
Porém, não se iludam. Eu estava dizendo que fiquei achando tudo muito estranho no início. E aqui essa palavra é sinônimo de incomodo, contrariedade, quase desgosto, não o contrário. E vai assim até que, sabendo que ainda teria um bom tempo de filme, decido relaxar. Ah, a proposta é essa. Então, vejamos o que posso aproveitar dela. E é a partir daí que eu saio daquele momento de me remexer nas cadeiras para começar a pensar: nossa... isso foi ousado, intenso, Aaron Taylor-Johnson nos convence de que não é nada difícil perder a cabeça por ele e mostra que, apesar de ter apenas 22 anos, “o garoto de Liverpool” já está preparado para atuações mais audaciosas. Nem vou entrar no mérito do resto do elenco, mas tem muita gente boa aí envolvida.
genial. O figurino por si só já encantaria. E ainda por cima com bailes! Minhas amigas da dança se divertiriam com os passos dos personagens. Bem, e por falar neles, Judy Law que costuma fazer um enorme sucesso em suas comédias românticas é, definitivamente, outra pessoa nesse filme. E, devo confessar, que todo rosto bonito que faz um papel em que já não fica tão bonito assim, sempre ganha o meu respeito. Keira Knightley que já havia me conquistado em Orgulho e Preconceito segue me impressionando pelo menos nesse papel de mulher apaixonada e sofredora.
O diretor Joe Wrigth deve ter tido um trabalho imenso em orquestrar cada cena. E a palavra é essa mesma, pois a gente percebe que é tudo milimetricamente previsto. Não falta nada. Nada excede. Acabo saindo do cinema com a opinião transformada sobre essa “linguagem” que o filme resolveu criar e eu já deveria saber que, não é porque é imagem que é mais importante ou mais verdadeiro do que a impressão que nós sentimos. Então, o meu conselho é: esqueça aquilo que você acha que sabia e esteja aberto para o encontro inusitado entre o teatro e o cinema e divirta-se com os caminhos da arte no século XXI.

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