Bem feito para mim. Não gosto de
ler nada antes de ver um filme. Nenhum comentário, sinopse. Crítica, muito
menos. Mas, ouço rumores e foi assim que fui parar no cinema para assistir Anna
Karenina. Embora esse nome tenha estado presente durante grande parte da minha
vida como uma personagem do livro de Tostoi, nada sabia sobre ela. O livro está por aqui em uma das prateleiras,
mas é só. Sendo assim, os primeiros minutos do filme foram de puro
estranhamento. Eu adoro cinema. Tenho o mesmo sentimento pelo teatro, mas
quando essas duas coisas se misturam não é assim tão fácil de absorver. Woody Allen
gosta de fazer isso, mas enquanto o assunto é comédia, minha aceitação é mais
tranquila, sem resistência, o que não é o caso.
Se partirmos do princípio que
para ser teatro é preciso corpo presente, troca entre atores e plateia, não é
disso que eu estou falando. Mas então porque a gente vê como teatrais movimentos
que não correspondem aos fatos? Portas que se abrem levando para lugares
improváveis, gestos, movimentos totalmente fora do cotidiano. Também não dá
para ignorar que muitas cenas são feitas no ambiente de um edifício teatral,
com abertura de cortinas e tudo mais. Junta-se a isso uma fotografia de
contrastes entre cores, uma luz que dá foco artificial em algum objeto ou
personagem, contextualizando a cena e eu reconheço elementos cênicos ali. Daqueles
que transformam uma cena de capinar, de trabalho braçal uma das imagens mais
poéticas que já vi.
Porém, não se iludam. Eu estava
dizendo que fiquei achando tudo muito estranho no início. E aqui essa palavra é
sinônimo de incomodo, contrariedade, quase desgosto, não o contrário. E vai
assim até que, sabendo que ainda teria um bom tempo de filme, decido relaxar.
Ah, a proposta é essa. Então, vejamos o que posso aproveitar dela. E é a partir
daí que eu saio daquele momento de me remexer nas cadeiras para começar a
pensar: nossa... isso foi ousado, intenso, Aaron Taylor-Johnson nos
convence de que não é nada difícil perder a cabeça por ele e mostra que, apesar
de ter apenas 22 anos, “o garoto de Liverpool” já está preparado para atuações
mais audaciosas. Nem vou entrar no mérito do resto do elenco, mas tem muita
gente boa aí envolvida.
O diretor Joe Wrigth deve ter
tido um trabalho imenso em orquestrar cada cena. E a palavra é essa mesma, pois
a gente percebe que é tudo milimetricamente previsto. Não falta nada. Nada
excede. Acabo saindo do cinema com a opinião transformada sobre essa “linguagem”
que o filme resolveu criar e eu já deveria saber que, não é porque é imagem que
é mais importante ou mais verdadeiro do que a impressão que nós sentimos. Então,
o meu conselho é: esqueça aquilo que você acha que sabia e esteja aberto para o
encontro inusitado entre o teatro e o cinema e divirta-se com os caminhos da
arte no século XXI.
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