Friday, February 01, 2013

Django Livre - A violência da arte de Tarantino


Como sempre fui para o cinema com muito pouca informação sobre o filme. Mas pelo menos duas mereciam a minha consideração: estava na lista do Oscar e meu sobrinho João Mello havia gostado. Mas não sabia que tinha Jamie Foxx no elenco, muito menos Di Caprio. Tinha visto comentários muito favoráveis à trilha sonora no Facebook. Então, vou começar por essa. Até porque na primeira música já dá para entender porque as pessoas elogiavam. Durante toda a película, as músicas não passam despercebidas. Não são pano de fundo. Elas surgem salientes, em destaque e nos divertem, desde o início, com a competência em contribuir para nos colocar no clima. Já no primeiro acorde, na primeira cena fui fisgada para dentro da tela. Devo dizer, porém, que Django Livre não é exatamente o meu tipo de filme. Tem cenas, como a dos cães e da luta que eu, praticamente, não consegui olhar, tamanha violência, apesar de tentar manter a consciência de que não era real. Aliás, não sei se posso fazer esse tipo de comparação, mas há, nesse filme, um tipo de distanciamento provocado. Algum elemento que nos diz todo o tempo que se trata de ficção, como as produções teatrais de Brecht. Assim mesmo, tem horas que, para mim, é difícil de encarar. Mas, ao mesmo tempo, dei risada em várias cenas e eu acho que essa é uma das características mais interessantes do Tarantino. Esse humor agressivo, irônico, associado a imagens sanguinolentas, torturas, judiarias. Cada uma delas elaboradas tão cuidadosamente, com um senso estético tão perfeito que, mesmo que a gente fique arrepiada, vale uma espiadela. É preciso ser um gênio para fazer isso sem cair no ridículo, sem exagerar. Somam-se a isso interpretações incríveis como a de Christoph Waltz, no papel do alemão Dr. King Schultz, caçador de recompensas, que desencadeia o enredo. Gestos e falas tão precisas que nos levam a emoções autênticas e a reações as mais surpreendentes. Não importa quantas pessoas ele mate no filme, a gente acaba torcendo por ele. Quanto à Foxx, já tinha me deixado boquiaberta em Ray e segue provando que não há papel que ele não possa fazer. Assim, como Di Caprio, que ficou muito tempo fazendo personagens açucarados, mas que, desde o início de sua carreira (quando ele fez um personagem coadjuvante de um menino excepcional, cujo nome do filme nem localizei em sua biografia), já tinha mostrado que é muito mais do que um rostinho bonito. No mais, todo o elenco impressiona e dirigido por Quentin Tarantino fazem cenas extremamente difíceis. Não reconheci Samuel L. Jackson, apesar de ficar fascinada pelo personagem do mal (?) que ele faz, Stephen. Kerry Washington, que ainda não identifico com facilidade, aparece com toda a sua beleza. Todos os demais, e são muitos, ótimos em seus personagens, em suas atuações. E, apesar de todo sangue derramado, o filme, como já disse, me fez rir, principalmente pela forma debochada como Tarantino nos conta toda uma época. Sim, porque apesar dos exageros quase caricatos, a história está lá, no roteiro elaborado por ele. Os preconceitos, a crueldade. Além disso, a mim, parece que nenhum detalhe escapa. O figurino é impressionante. A fotografia também merece destaque. Seja nos detalhes ou nos planos abertos há um jogo de luz e sombra que não é comum. Por tudo isso, mesmo eu que não sou fã de filmes violentos, saio do cinema convencida de que vale muito a pena, que, mais do que um filme, o que assisti foi uma obra de arte, ou melhor, de muitas artes: musical, plástica, cênica e, é claro, cinematográfica. 

1 comment:

  1. Helena, o filme do Leonardo di Caprio a que te referes é "Gilbert Grape - Aprendiz de um sonhador", de 1993. É um belo filme, com o Johnny Depp no elenco, também.

    ReplyDelete