Só a companhia de minha irmã me fez vencer a preguiça de casa para ir ao teatro. Afinal, esta semana já tinha visto dois espetáculos. Fora do Poa em cena isso já teria sido o suficiente para mim. Porém, lá me fui para ver A bilha Quebrada que como consta no programa foi livremente inspirada na obra de Henrich Von Kleist. Vou pouco ao teatro de Arena mas sempre que entro acho bom. E ver Clovis Massa já na entrada também é motivo de satisfação. Saber que a direção do espetáculo era dele me faz chegar querendo gostar.
O começo da peça é difícil para mim. Não entendo algumas falas, não sei do que se trata (sempre faço questão de não ler nada sobre) mas antes que isso se torne desconfortável, decido deixar correr. Imagino que vou acabar entrando no contexto. Logo isso acontece. Em cena, alguns rostos conhecidos como Ariane Mendes e Marcelo Mertins, entre esses o de Luis Franke, no papel do Juiz. Será que posso chamá-lo de protagonista? Não sei. Mas que a atuação dele é ainda mais forte do que o seu físico, disso eu não tenho dúvidas. Assim, como as de Larissa Tavares e Claudia Lewis. O que sei também é que todo o elenco desperta atenção e a curiosidade do público e, ao mesmo tempo que roubam a cena, a compartilham com seus colegas. Assim, cada personagem faz com que o enredo vá tomando forma e provocando risos. Mas não daquele tipo superficial, bobo, que surge de piadas rasteiras e exageros farsescos. Ao contrário. Elas vêm do tempo exato de cada fala, do suspense criado pelos atores cujo figurino de Rô Cortinhas nos transporta a uma outra época e a um outro lugar, mas que nos permite reconhecer uma mesma temática: a do abuso do poder, da falta de justiça e da falsa moral.
Poucos elementos cênicos caracterizam um tribunal. Tanto é assim que, ao longo do espetáculo, eles vão sendo movidos de lugar, explorando, de forma inteligente e equilibrada o espaço cênico e dando a chance da plateia ver diversos ângulos das cenas que ainda incluem cantorias, danças e instrumentos musicais executados ao vivo.
E para mim que sempre acho difícil identificar a mão do diretor no teatro, neste acredito ver claramente a mão, os olhos, a cabeça do meu professor de História do espetáculo e tantas outras disciplinas. O cuidado, o apuro e o conhecimento de alguém que se dedica há muitos anos ao teatro aparecem para coordenar estes atores que não deixam nada a desejar a Lilian Lemertz e a Lineu Dias que participaram das apresentações da peça na cidade nos anos 60. E se Goethe fracassou ao montá-la pela primeira vez, Clovis Massa acerta em trazer de volta o que tem tudo para acabar sendo estudado por seus alunos no futuro como um sucesso do século XXI.
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