Thursday, March 18, 2010

Cabarecht: uma noite que surpreenderia Bertold Brecht



Crítica? Imparcialidade? Sinto muito, mas não estou aqui para isso. Quero falar do espetáculo Cabarecht, mas decidi falar sobre teatro e, confesso que, até hoje, eu me surpreendo quantas coisas estão relacionadas com esta arte. Esta semana, estive no lançamento do Festival da Canção Francesa, organizado pela Aliança e eu e minha irmã comentávamos como é importante a presença cênica de um cantor. Concluímos que uma bela voz, sem performance, deve ir para o rádio.
Bem, mas com tantas atividades que temos hoje em dia, é preciso que algo nos “chame” para sair de casa por prazer. Neste caso, foi Zé Adão Barbosa. Embora ele não tenha sido a única razão, ele costuma ser a mais importante. Fui “patinho feio” na infância, tive uma ansiedade patológica na adolescência e briguei com meu lado depressivo até depois dos 30.  Bastou começar a fazer teatro com este ator-professor-diretor para me libertar de meus monstros internos. Hoje, eles andam por aí me deixando em paz o suficiente para que eu possa estar às vésperas de defender meu trabalho no mestrado de Artes Cênicas.
Chegamos, então, a segunda razão para eu ir ao Teatro São Pedro. O diretor Humberto Vieira. Não o conhecia antes de começar a buscar o título de mestre. Gostei dele como colega. E, em 2008, ofereci para ele um ingresso para ver Ariane Mnouchkine no Porto Alegre em cena, pois estava trabalhando como mediadora da Bienal do Mercosul e sabia que não sobraria energia para ir. Ele aceitou. Trouxe desta experiência, de presente para mim, a programação do espetáculo. Conquistou-me. Simples assim. Daí por diante fui percebendo que não conhecê-lo era mais uma das minhas tantas ignorâncias, mesmo para alguém tão interessada em teatro.
Razão três: Sandra Dani. Sou sua admiradora de longa data. Secretamente até 2008, eu diria, quando nossos “caminhos se cruzaram” no filme do Sergio Silva Quase um tango. Tive a chance de chegar mais pertinho. Coisa boa. Sei, sei... ainda não falei do espetáculo. Mas a bem da verdade para mim tudo isso importa. Porque estas pessoas sempre me fascinaram e para minha total felicidade fui conseguindo me aproximar delas. Gente que não se espanta quando de um choro profundo, passo para um sorriso e vice-versa (como diz minha mãe). Afinal, eles fazem isso, ou melhor, seus personagens, mas isso é apenas um detalhe.
No teatro, me senti acolhida, compreendida, terapiada. Assim, nunca ir ver um espetáculo será só ver um espetáculo. Ainda mais quando neste estiver reunidas tantas pessoas que eu admiro. E, se junta a isso, o espaço teatral do São Pedro, justamente no Foyer com todos os seus lustres e cortinas, onde ainda é permitido comer e beber... Com certeza é quase o paraíso. Falando nisso, entra para assistir o espetáculo Ivete Brandalise que entrevistou meu pai pouco antes dele morrer. Hoje, faz exatamente um ano. Entendem o que eu digo? A mente é assim. Nós somos assim. Multipartidos. Complexos.  E o teatro vem para nos dizer como em Cabarecht: que “a sensatez vá para o inferno!” Aliás, é para lá que eu irei se computarem o orgulho que fico de ver este mago das artes cênicas, meu mestre, perguntar se minha mãe, professora de francês, estava lá o vendo cantar e que isso o preocupava. Mas, acho que vou ter companhia. O olhar do diretor de Cabarecht para “seus” atores no palco era de admiração, mas creio que também de orgulho. E não é para menos. Que “time”! Os comentários? Todos favoráveis, claro. Zé Adão domina qualquer cena, não será uma língua estrangeira que o derrubará. Aliás, se minha pesquisa sobre Crítica teatral na era digital não fosse apenas teórica, eu usaria as novas tecnologias para elaborar um dueto entre ele e Elis Regina, uma cantora que sei que ele admira profundamente.  Olha... sou suspeita. Disse isto na primeira frase, mas acho que ele não faria feio.
Bem, mas voltemos ao “palco”. Zé Adão, Sandra Dani, Antônio Carlos Brunet e Cida Moreira ao piano cantam em alemão,  inglês, francês,  português, músicas do alemão Kurt Weill que fez dupla com o dramaturgo Brecht em vários espetáculos como “Ópera dos três vinténs”. Nada de lariri lalálá. As melodias são difíceis. As letras então.... Suas vozes, porém, encheram a sala e provocam aplausos constantes. Mas como disse minha irmã (a qual agradeço até na minha dissertação pela paciência de ouvir tanto sobre teatro): “este é o jeito de chegarmos de uma maneira mais branda a Brecht”. Não é que ela prestava mesmo atenção?
Para aqueles que esperavam algo mais acadêmico, cito Emanuel Kant: "Cada um chama de agradável o que o satisfaz; de Belo, o que lhe agrada; de bom o que aprecia ou aprova, aquilo a que confere um valor objetivo”.
E para quem acha que este meu texto não passa de um devaneio, recupero uma frase do próprio espetáculo para encerrar: “Sabemos que tudo é transitório e nada restará a não ser a poesia”.
Helena Mello
PS: Minha tia, irmã do meu pai, foi conosco. Ela acaba conversando com os motoristas de taxi. Este, ao ouvir o nome do espetáculo, perguntou: é gauchesco? Tinha compreendido Cabare-tchê.  Bem, a verdade é que o Rio Grande do Sul estava muito bem representado.
Ficha técnica:

Direção e roteiro: Humberto Vieira
Direção musical: Cida Moreira
Elenco: Cida Moreira, Sandra Dani, Antônio Carlos Brunet, Zé Adão Barbosa
Iluminação: Claudia De Bem
Programação visual: Humberto Vieira

Cabarecht:
Dias 10, 17 e 24 (quartas-feiras) e 30 de março (terça-feira)
Foyer Nobre do Theatro São Pedro - Praça Marechal Deodoro, s/n
Centro - Porto Alegre
Mais informações: 51 3227.5100 


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