Monday, November 02, 2009

Alô, alô Terezinha...Falta o sucesso da discoteca do Chacrinha.



Fui assistir ontem o filme Alô, Alô Terezinha, com uma jornalista, amiga minha há mais de dez anos. Acho que já comentei aqui. Somos bem diferentes em relação ao comportamento, mas temos princípios e uma ética que nos mantém unida desde que nos conhecemos. Fazia tempo que não a via e quando sobra um tempinho para ela sair e ir a um cinema, lá vamos nós. Ela que escolhe o filme. Foi assim que vi Homem Aranha, Arquivo X e outras coisas que, por conta própria não veria. Agora, ela até já começou a me advertir. Mas vou é pela companhia.
Fiquei incomodada durante o filme. Depois, aos poucos comecei a tentar entender o porquê.  Na minha cabeça ia assistir a um filme sobre o Chacrinha, mas não. O que a gente vê na tela, na maior parte do tempo, são os depoimentos das Chacretes na época. Até aí, tudo bem. Mas o filme explora o patético. A situação decadente em que se encontram agora. Aquelas mesmas mulheres jovens, sensuais, desejadas, agora, gordas, velhas e sem grana.
Deu para perceber que esta sensação desconfortável foi provocada. Era, sem dúvida, a intenção do diretor Nelson Hoineff. Fiquei até procurando razões nobres, do tipo: mostrar como perde quem tenta viver só do corpo, de uma circunstância, da juventude. Isto até acho bom. Afinal, a cada dia, a indústria da beleza força uma estética que aprisiona as mulheres ou as coloca para baixo. Aquela idéia de saber envelhecer parece coisa do passado (lembrei do Arriaga dizendo que devíamos ter orgulho das nossas cicatrizes). Não tenho nada contra aproveitar as fórmulas que ajudam a retardar as rugas, que garantem que a gente se mantenha com uma aparência cuidada. No entanto, não é isso que a gente vê. Aliás, principalmente nas camadas mais altas, as mulheres estão ficando deformadas. Bocas inchadas pelo botox, caras puxadas pelas cirurgias plásticas. Às vezes, me bate uma saudade daquele velhinha ajeitada, natural que eu via por aí.
Bem, mas o que acabou não me agradando é que se as Chacretes eram exploradas, foram novamente neste filme. Foi me dando uma tristeza de vê-las tão decadentes e sem a menor consciência disso. Ainda tentando manter a pose. A idéia de fazê-las voltar a fazer as mesmas dancinhas é de doer. A mesma coisa aconteceu com os calouros apresentados no filme. A maioria contando o quanto foi arrasador ser buzinado no programa e de seus sonhos (ainda) de serem transformados em cantores. Tem uma cena em que um deles canta em uma sacada, com uma afinação bastante razoável e faz contraponto com Agnaldo Timóteo em outro local, mas basta que o plano se abra para vermos que o primeiro está em uma favela e que os únicos aplausos vêm dos transeuntes de uma rua sem calçada.
Aparecem também alguns famosos. Fábio Junior, Ney Matogrosso, Baby Consuelo, Morais Moreira, Caetano e até o rei Roberto Carlos, mas mesmo estes são filmados de forma a passar uma imagem pobre, desgastada.
O programa para quem não sabe era uma zorra. O público ao vivo, as Chacretes em trajes decotados, Chacrinha sempre fantasiado e buzinando e correndo para todo lado. Atira farinha, atira bacalhau. O filme não mostra aquela famosa versão do quanto ele ajudou o início de carreira de muitos. Rapidamente, alguns falam que bastava a música aparecer no programa para virar um sucesso. Mas é só.
Valeu à pena ter visto até para que eu possa pensar sobre tudo isso que me desagradou. Afinal, como conversava minha irmã, o programa durava a tarde toda e era, naquela época, a única opção na TV. Minha amiga ainda disse: “sou feliz e não sabia. Agora, tenho canal acabo e outros programas para ver.” Em compensação, na minha cabeça ficou as imagens daquelas mulheres tão requisitadas antigamente e, agora (2007) fazendo força para sobreviver. Seria uma bela denúncia, um ótimo registro, se não tivesse ficado claro que elas não têm consciência de nada disso e buscam, ao dar seus depoimentos, aparecer pelo menos mais uma vez. Para quem gosta de filmes trash, eu recomendo.

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