Tuesday, September 15, 2009

A verdadeira arte de viajar*


Fazia uma semana que não via uma casa. Estava em Brasília. Dizem que existe. Meu amigo que me hospedou até pensa em ir morar em uma. Por enquanto, isso quer dizer há cinco anos, ele mora em um apartamento bem espaçoso e com fácil acesso ao Ministério da Saúde, onde trabalha. Mas, é claro que esta diferença em relação à moradia não foi a única que observei. Nem todas são favoráveis, mas, é importante dizer que elas partem da perspectiva de uma gaúcha que ama a sua cidade. Porém, adoro viajar e deixo as comparações para fazer só depois que retorno. Se não, para que sair de casa?

Não posso deixar de tirar meu chapéu para a arquitetura. Não é à-toa que Oscar Niemeyer é tão famoso. Os profissionais da área do mundo todo costumam ir até lá só para conhecer. Meu amigo põe alguns defeitos e acredito que ele tenha mesmo razão, pois, apesar de extremamente diferente e bonito, segundo ele, existem prédios que não tem estrutura para suportar a temperatura e as intempéries da região, como raios, por exemplo. Peca em aspectos funcionais. Porém, para quem é turista isto não faz diferença e cada prédio traz uma surpresa.

Aliás, já conhecia Brasília. Havia estado lá em 1987, no Festival de Arte e Cultura. Desta vez, constatei que eu era mais “barroca” há mais de 20 anos atrás. Tantas linhas retas, este estilo organizado e clean da cidade havia me incomodado. Continuo achando que a cidade não é acolhedora, mas, hoje, já consigo apreciar a estrutura de quadras, com seus espaços comerciais, oferecendo autonomia aos seus moradores. Por falar neles, é preciso lembrar que a cidade foi criada há apenas 49 anos (a cidade faz 50 anos no ano que vem), então, a quantidade de pessoas nascidas em Brasília ainda é pequena e esta costuma ser uma das observações: uma cidade sem tradições, sem alma, dizem seus críticos. No entanto, é possível olhar isso sobre outra perspectiva, pois, nos oferece a chance de conviver com pessoas de todo o país. Nestes poucos dias que fiquei lá, conheci mineiros, cariocas, paulistas e nordestinos, claro! Aliás, o sotaque que se ouve nas ruas é uma mistura de tudo isso. Estas são em sua grande maioria extensas avenidas, com várias faixas e carros, muitos carros.

Pouco se vê pessoas caminhando. Raro mesmo. Assim, como ver animais na rua. Muito diferente daqui. Posso contar nos dedos e não vou preencher nem uma mão os cães que encontrei com seus donos. Gato? Nenhumzinho. Nem mendigos tampouco. Vi alguns dormindo nas ruas. Três para ser mais exata. E, nestes sete dias em que vaguei por lá ninguém me pediu nem um tostão para comprar leite, remédios ou o que quer que fosse. Flanelinhas? Nunca.

A gente anda muito para chegar a qualquer lugar. Mas, as tarifas dos taxis lá não se comparam com as daqui. Muito menores. Além disso, os motoristas respeitam as faixas de segurança e aguardam o pedestre atravessar. Ufa! Soube, ontem, que começaram uma campanha para que aqui em Porto Alegre isto também aconteça. Que ótimo!

Bom, como todos sabem o clima em Brasília é seco e quente. O que para mim nestes dias em que fiquei lá foi uma vantagem em relação aos que estavam aqui em Porto Alegre, onde só chovia e fazia frio. O gaúcho é mesmo um forte. Sobrevive a estas alterações brutas de temperatura. Lá, também não é fácil. A gente tem que tomar água o tempo todo. Nas empresas, existe um programa no computador que avisa que é preciso tomar água, tamanha secura. Meu amigo disse que é o lugar com o maior índice de pedra nos rins, em função disso.

Ah, mas, não posso encerrar sem falar de comida, é claro! Não tive chance de experimentar nada mais típico. Gostei muito das saladas de frutas que vendem na rua. Uma boa quantidade, muito bem feita, com ingredientes novos, acrescidos de leite em pó, granola, canela, aveia, leite condensado e, talvez, mais alguma coisa que agora não me recordo por R$ 3,00. Em geral, porém, achei as coisas caras. Em um dos lugares mais bonitos onde estive, o Portal do Lago, uma porção pequena de batata frita, R$ 17,00! Nos shoppings, os preços são, certamente, mais altos do que aqui. Vinho então... Um rombo no orçamento. Ontem, porém, comi um crepe delicioso. A massa era bem semelhante aquelas casquinhas que vendiam na praia e paguei R$ 5,00. Na noite anterior também havia saído com uns amigos e comido umas pizzas em uma padaria muito boas e baratas. Só que não havia vinho para acompanhar, o que, para mim, faz falta. O que percebi é que é preciso descobrir onde e o que comer e daí já não se gasta tanto. Desta vez, quando comecei a encontrar estes lugares já estava na hora de voltar. O que, aliás, me agrada tanto quanto viajar!

Não andava de avião desde 2001. Gosto. Na volta, até consegui dormir, embora, tenha voltado a estranhar as decolagens e aterrissagens depois de tanto tempo sem voar.

PS: Fomos à Brasília apresentar os Jogos Boole em francês no Congresso Internacional de Professores de Francês. (www.jogosboole.com.br)

*A Verdadeira Arte de Viajar- Mario Quintana

A gente sempre deve sair à rua como quem foge de casa,
Como se estivessem abertos diante de nós todos os caminhos do mundo.
Não importa que os compromissos, as obrigações, estejam ali...
Chegamos de muito longe, de alma aberta e o coração cantando!

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