Saturday, September 05, 2009

Esbanjando competência


Talvez não seja coincidência que justamente na véspera de uma viagem de avião, coisa que eu não fazia desde 2001 quando fui a França, eu tenha ido ver o Avarento. Afinal, foi lá, na Comédie Française, que eu fui assistir a esta peça de Molière (L’Avare). Comentei isso com o meu colega e diretor Gilberto Fonseca quando ele me falou que estava montando esta peça. Falei que se tratava de uma proposta pós-moderna, sem figurino e um cenário cheio de portas que abriam e fechavam todo tempo. Acho que cheguei a comentar que, tirando a experiência de estar em um teatro com tanta história, mal pude acompanhar o texto e nada na encenação francesa me impressionou.

Bem, mas, hoje tive o prazer de ir ali ao Teatro de Câmera, aqui mesmo na minha cidade e assistir a uma excelente montagem. O que parece já está chegando aos ouvidos daqueles que gostam de teatro, tendo em vista o bom público que lá estava. Mas, não é surpreendente já que este é o último fim-de-semana desta temporada. Ou seja, se queria ver o espetáculo tinha que ser hoje, pois, desde que entrou em cartaz recebei o convite, mas, uma faringite me exigiu repouso. Sim, Marcos Chaves, “eu estive com um punhal na garganta” e posso te garantir que no meu caso isso era bem menos uma metáfora do que uma sensação que a doença provoca. Dito isso, falarei do Avarento do Grupo Farsa.

O cenário é simples, mas, com elementos suficientes para nos colocar no ambiente para aqueles personagens. Já o figurino é um caso a parte. Além de serem totalmente adequado-as para cada um que estava no palco, as roupas eram extremamente bem elaboradas. Diria até que não se tratava de figurinos, mas, de roupas de época. Teriam sido arrematadas em algum leilão com o dinheiro ganho? Não. Vejo no programa que é um trabalho de Daniel Lion. Aliás, não saberia dizer o quanto o prêmio da Funarte fez diferença no trabalho, até porque sei que os ensaios já vinham há bastante tempo e isso é visível no resultado. O que vi não se constrói em pouco tempo.

No palco, um grupo de atores coesos em sua proposta e em seu talento representado no início por Zé Mario Storino e que no decorrer das cenas surge com tantas outras figuras. Enquanto assistia, pensava em destacar alguém, mas, agora vejo que se começar vou ter que falar de todos. Além do Marcos, tem Lúcia Bendati que desde que comecei a ver seus espetáculos tem me dado aulas de interpretação, a Ariane Guerra, minha colega do DAD que pequena na estrutura tem aquele vulcão por dentro e que aparece no palco, exatamente como acontece com a Daiane Oliveira. Isso sem falar no prazer de ver João Madureira e Lucas Krugg. Bem, mas, posso falar do ator que fez o Avarento, “protagonista” desta história. Elison Couto está convincente, autêntico, divertido. E se não é fácil priorizar alguém posso, certamente, dar ênfase a toda movimentação dos atores em cena e suas marcações, as soluções de distribuição no espaço e, por último, e uma das coisas que me deixa feliz, a competência de todos na maneira de dizer o texto que, convém que se observe, não é fácil, exige aquele famoso tempo da comédia que ou acontece ou é um fracasso. Se considerar a quantidade de pessoas rindo na platéia e o número de vezes que isso aconteceu, não tenho dúvidas de que é um espetáculo extremamente bem sucedido. E como se não bastasse tudo isso, eles cantam divinamente e sem exageros, a não ser no final quando a cantoria parecia clichê (e já começava a me incomodar) e acontece a revelação de era de propósito, levando todo mundo mais uma vez ao riso.

Já disse outras vezes que vou mais ao cinema do que ao teatro, mas, bastariam mais peças como o Avarento e, certamente, este hábito se modificaria. Parece que no que depender do Gilberto é isso mesmo que irá acontecer, afinal, ele pretende colocar em cartaz Tartufo e As Preciosas Ridículas.

PS: Já li o texto há muito tempo e não lembro o que estava realmente no original e o que é liberdades do grupo, mas, a fala “seu catarrozinho lhe cai bem”, dita ao Avarento, me lembrou o vídeo da entrevista do Nelson Rodrigues e a forte impressão que o seu pigarro causou no diretor.

1 comment:

  1. Muito obrigado pelas tuas palavras, minha querida.
    Adoramos fazer esse trabalho, envolveu muita dedicação e muita paixão.
    Fico muito feliz que tenhas gostado.
    Mil beijos.

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