“Olá, colega”. Disse-me hoje, por email, meu sobrinho, ironizando o fim da exigência do diploma de jornalista. Como a questão é sensível para mim, falei que estava atrás do meu título de mestre em Artes Cênicas, caso ele quisesse me acompanhar. Confesso que não consigo compreender quem tirará vantagem desta decisão. Duvido muito que seja o público, a população em geral.
Há uns 20 anos atrás, mais ou menos, tive uma carta minha publicada na Zero Hora justamente sobre o mesmo tema. Alguém, importante na época tinha escrito sobre esta mesma idéia de acabar com o diploma. Naquela ocasião, eu brigava por um espaço no mercado e não via nos jornais anúncios para jornalistas trabalharem nos principais veículos de comunicação e retruquei: para que permitir que mais pessoas possam concorrer a estas vagas? Não seria mais lógico escolher entre os formados primeiro para depois abrir vaga para prováveis talentos de nascença? Continuo pensando a mesma coisa. Não que eu não acredite que exista gente com dom para a comunicação e que até possa não precisar passar pela faculdade, mas, eu aprendi bastante por lá. Não é mesmo, Carlos Kober? Mas, o que me perturba, realmente, é que por que este critério foi válido somente para o jornalismo?
Tenho uma tia que, sem dúvida, poderia ter o título de veterinária, pois, há mais de 20 anos cuida de uma quantidade absurda de cachorros, preocupando-se e tratando de suas doenças. Outra tia passou mais de 10 anos cuidando diariamente do marido com um problema de saúde que comprometia sua fala, seu caminhar, seu raciocínio. Tudo. Daria o título de enfermeira para ela sem vacilar. Minha mãe trabalhou pela Associação dos Professores de francês do Rio Grande do Sul e recebeu o reconhecimento do Governo daquele país com as Palmas Acadêmicas, mas, quando começara a chamá-la de relações públicas, o Sindicato a advertiu.Como todo mundo, sei de gente com diploma que não é bom profissional. Assim, como conheço outros que têm a carteira de motorista, mas, não dirigem.
Mas, não consigo deixar de me perguntar a quem servirá esta mudança? Afinal, aqui no sul, se considerarmos o número de jornalistas que se formam todos os anos e os poucos veículos existentes, precisamos saber para onde irão todos os outros. Passado todos estes anos, diria que já não tenho a mesma audácia daqueles tempos, mas, isto não quer dizer que possa deixar passar em silêncio esta notícia. A afirmação do Ministro Cezar Peluzo (ZH, p.19 – 18/06) de que “não existe no exercício do jornalismo nenhum risco que decorra do desconhecimento de alguma verdade científica”, é, no mínimo, preocupante. Até parece que as palavras não têm a força que tem.
Disse ontem a alguns amigos que só não iria dormir chorando porque não estou em uma faculdade particular de jornalismo agora pagando um valor que me permitiria ir para a Europa ou comprar um carro novo. Mas, além de todas as conseqüências que este fato ainda pode trazer para todos, não vou dizer que as horas que dediquei ao estudo das Leis da Comunicação, da ética do jornalista, não me pareçam agora tempo perdido. Como alguém pode imaginar que exercer a profissão de jornalista não exija um saber prévio? Um compromisso desenvolvido e firmado com o público?
Como falei no início, não há como negar que não conseguiria ser imparcial em uma questão tão nevrálgica para mim, mas, será que todos não precisam refletir sobre esta decisão? Acabo de lembrar o mestre Marques Leonam que tanto me ensinou durante os anos de faculdade... E agora uma lei vem dizer que não é preciso nenhuma técnica? E o pior ainda são os argumentos: “trata-se de uma lei pela liberdade de expressão”. Dá para acreditar? Mesmo eu que sou otimista e crédula por natureza, não creio. E o que me entristece agora é que isso não fez e não fará a menor diferença, pois, quem sou eu para questionar uma decisão do Supremo Tribunal Federal? Uma jornalista.
ai colega, fica triste não!! ahauhaua auha
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