* Márcio Silveira
No mês de dezembro faleceu Harold Pinter, um dos maiores dramaturgos do século 20, ferrenho defensor dos direitos humanos e opositor às políticas belicistas, que em 2005 recebeu o Prêmio Nobel de literatura. Seu melhor tradutor no Brasil é o maior dramaturgo do teatro moderno e contemporâneo gaúcho, o professor Ivo Bender, que também merece reconhecimento pelo conjunto da obra, ainda em desenvolvimento a todo vapor.
O leopoldense descendente de alemães trás como marca maior em sua obra o profundo conhecimento do teatro grego. Transpôs o gênero dos pais do teatro ocidental, como Sófocles, Ésquilo e Eurípides para um Rio Grande do Sul em formação. Com sua lavra e entalhes de um mestre marceneiro, profissão de seu pai, criou consistentes textos, chegando a ser chamado de o novo Qorpo Santo, dramaturgo gaúcho do século 19 considerado precursor do teatro do absurdo.
Ivo não se encaixa em nenhuma vertente temática ou estilística da dramaturgia brasileira, segundo a crítica literária Léa Masina se descobre nas peças do autor, dissimuladas pela aparência do nonsense, do absurdo, da loucura, uma fidelidade incrível àquilo que há de mais genuíno no homem: existe nelas, de modo inequívoco e dialético, a oposição entre Eros e Tanatos, o amor e a morte. Justapõem-se os significados e cria-se assim uma estranha relação em que o absurdo resulta da vivência do real. É na realidade que o circunda de suas vivências mais profundas que busca examinar a alma humana. O autor através de textos como da Trilogia Perversa e Queridíssimo Canalha, polvilha os palcos brasileiros com situações insólitas, afunila os conflitos deixando a mostra hipocrisias e falsas aparências neste mundo de meias verdades.
Se em tempos de sapatadas, onde a maior atitude que se pode chegar diante de governantes hipócritas é o lançamento de sapatos, o que dizer senão que devemos recorrer a grandes intelectuais como Pinter e Bender para que possamos entender melhor as transformações históricas da humanidade. Para pensarmos em como poderão ser as relações no futuro próximo e melhor estruturá-las.
O tradutor das poesias de Emily Dickinson e de peças de Pinter e Jean Racine além de ter sido o patrono da feira do livro de São Leopoldo em 2007 foi padrinho do Porto Alegre Em Cena 2008. Mas falta uma homenagem maior, como sugestão, a exemplo de Porto Alegre com Carlos Carvalho, que São Leopoldo crie um concurso nacional de dramaturgia. Homenagem à altura deste renovador da dramaturgia gaúcha.
Márcio Silveira dos Santos é professor, dramaturgo, diretor e ator.
Ivo Bender é, sem dúvida, o mais importante dramaturgo gaúcho vivo, e, depois de Qorpo-Santo, é sem dúvida aquele que permanecerá interessando às futuras gerações. Tive a honra de ter trabalhado algumas vezes com Ivo, seja como ator em encenações de suas peças, seja como ator dirigido por ele mesmo em uma leitura dramática de sua última peça até agora, Diálogos espectrais. Concordo plenamente que Ivo mereça homenagens, sejam quais forem.
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