Thursday, May 21, 2015

Só um Chapeleiro maluco poderia trazer o Big Ben aos palcos de Porto Alegre



Minha proximidade com Igor Ramos começou justamente em uma apresentação do Teatro Aberto. Bem na hora em que o seu grupo apresentava, com o teatro Renascença lotado, falta luz. E a peça era boa. O Magico de Oz estava em ótimas mãos. Os atores divertindo a plateia, emocionando. Ninguém queria ir embora. Foi um momento tenso. Lembro da atriz que fazia a bruxa aos prantos. Mas, eles fizeram algo muito difícil: a luz voltou e eles terminaram o espetáculo. Desde então, passei a prestar mais atenção no trabalho dele. Acabamos amigos e ele sempre me convida para ver o que está fazendo. Hoje, fui assistir O Chapeleiro Maluco, no mesmo evento do ano em que nos conhecemos. Sim, eu vou para gostar. Mas, não saberia fazer isso forçadamente. Acontece que o trabalho do Igor tem um cuidado e um capricho que são especiais e que ficam evidentes neste espetáculo. Pode ter quase nada de cenário. Mas, uma tábua vai ser uma mesa e vai ser também o Big Ben. Isso mesmo. Aquele relógio inglês, ponto turístico da cidade. Acontece que o Grupo Leva Eu se dedica ao básico do teatro, a uma história bem contada, a autenticidade dos seus atores Juliana Johann, Josué Fraga e Alessandra Souza que são harmônicos e revelam a potência do teatro feito sem protagonismos e com poucos recursos. Como havia muitas falas em inglês (embora fossem traduzidas) tive dúvidas da compreensão. Mas, a reação do público demonstrou que isso não chegou a ser uma barreira. Aliás, as crianças que lotaram a sala deram uma aula de comportamento. E é na criatividade de usar uma luz estroboscópica para mostrar a passagem dos personagens por um local desconhecido, no jogo entre o imaginário do espaço delineado pelas falas e atuações e o realismo de uma xícara de chá que vai parar na mão do público, que O Chapeleiro Maluco vai se mostrando um teatro infantil que respeita quem vai ao teatro. Assim, eles conseguem comprovar, mais uma vez, que o teatro é uma das artes mais criativas que existe. Que, se bem feito, pode nos fazer viajar de Porto Alegre à capital da Inglaterra em segundos.  E por respeitar todo esforço que significa levar ao palco um trabalho assim é que eu não vou indicar aqui os poucos pontos que eu acho que poderiam melhorar e não faço isso, também, porque o diretor tem a humildade de dizer que está aberto as minhas considerações e reage ao meu comentário dizendo que estava, justamente, querendo esse olhar de fora. Assim, não preciso enfatizar algo que, provavelmente, já estará diferente nas próximas apresentações. Essa atitude traz à tona uma das características mais importantes do teatro que, como arte viva, é diferente a cada representação e, ao contrário do cinema, pode ir se construindo a partir da experiência e do público, garantindo o verdadeiro sentido do Teatro Aberto e de um diretor amigo. 

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