Quando no início do espetáculo, anunciam o nome dos bailarinos e citam Denis Gosh, acho
estranho. Afinal, sempre ouvi que profissionais da dança tinham que ser muito
magros. Mas, precisou apenas alguns minutos de espetáculo para eu perceber que,
não havia nada de errado nessa definição. Muito pelo contrário. Gosh dança
muito e, se ele tem algum desejo de parecer mais magro, consegue no palco. Ele
mantém uma leveza a cada passo e mostra também sua força, sustentando diversas
vezes outras pessoas do grupo. Além disso, carrega do teatro toda a sua
expressividade. Não é por acaso que ele assina a direção de elenco desses oito
bailarinos (Aline Karpinski, Dani Dutra, Eduardo Richa, Fernando Faleiro, Joana
Amaral, Juliana Rutkowski e Renata Teixeira) que, sendo tão únicos, parecem um
só. E eles começam com uma música francesa, o que, é claro, me agrada. Mas, ao longo
do espetáculo, ouvimos músicas de diversas nacionalidades. E não é só isso.
Existe uma mistura de muitos estilos. Eles
mexem com o preconceito, com essa vigilância sobre o que devemos ou não ouvir e
põem em cena músicas que, não raro, são rejeitadas justamente por quem
frequenta teatro. Nesse espetáculo, não existe música brega ou de elite. As escolhas são surpreendentes e a trilha é
totalmente eclética.
Sem nada de cenário, o palco totalmente nu, os bailarinos
ocupam o espaço todo o tempo. Não todos. Aliás, um ponto alto de 100 formas
para amor é, justamente, o jeito de “costurar” a coreografia de uma música para
outra. Quem poderia imaginar aquelas emendas? Aquelas 100 formas de sair de
cena? Só na mão de um diretor como Diego Mac tudo pode acabar tão bem conectado
e apresentar essa perfeição cênica.
Existe também uma mescla de precisão e criatividade, duas
características que, a princípio, nos parecem antagônicas. Em 100 formas de
amor, elas estão em cada momento, em cada gesto que mantém tão presente a Macarena
que o grupo já mostrou que pode ser poética. Mas, o grupo não mostra só o lado
leve do amor, mas, também, os exageros da paixão e do ciúme. E, se grandes
chefs de cozinha dizem que não se deve pegar um ingrediente e tentar fazê-lo
ser outra coisa, as escolhas desse espetáculo mostram que, às vezes, uma música
quer ser outra coisa. Assim, tem horas que, simplesmente, recordamos o que a
música traz à memória e, em outras, somos completamente surpreendidos pela
proposta dos coreógrafos. São muitos gestos, muitos movimentos, como o
revezamento dos bailarinos durante a música Eduardo e Mônica. Nada é previsível
na dramaturgia de Gui Malgarizi.
A maquiagem é singela, mas faz brilhar o rosto dos bailarinos,
trazendo glamour e beleza, mas não vou fingir que sei como Fabrício Simões
conseguiu aquele resultado de iluminação que dá poesia a cada momento, que
destaca alguns pares em detrimento de outros e, depois, ilumina todos.
O figurino de Fabrício Rodrigues é sofisticado. As roupas
parecem luxuosas e, embora nenhum bailarino esteja vestindo a mesma coisa, existe
uma profunda harmonia.
Não consigo deixar de pensar que adoraria receber um abraço
como tantos que vi e ser carregada por alguém daquela maneira. Aquela entrega
já é o amor. E é justamente a música com esse nome, na versão de Maria Bethânia,
que vai mexendo comigo, com a minha vontade de amar assim. Logo eu que já
cantei tantas vezes com deboche essa música tão melodramática.
“Mas, tudo isso é pouco diante do que sinto” ... para dar
uma pequena ideia da capacidade desse grupo em alternar ritmos, o que, sem
dúvida, exige muito e a gente sai do
espetáculo pensando que outra música seria bom vê-los dançar. Que venha o 200
formas para o amor!
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