Monday, December 01, 2014

Eles encontraram mais de 100 formas para o amor

Quando no início do espetáculo, anunciam o nome dos bailarinos e citam Denis Gosh, acho estranho. Afinal, sempre ouvi que profissionais da dança tinham que ser muito magros. Mas, precisou apenas alguns minutos de espetáculo para eu perceber que, não havia nada de errado nessa definição. Muito pelo contrário. Gosh dança muito e, se ele tem algum desejo de parecer mais magro, consegue no palco. Ele mantém uma leveza a cada passo e mostra também sua força, sustentando diversas vezes outras pessoas do grupo. Além disso, carrega do teatro toda a sua expressividade. Não é por acaso que ele assina a direção de elenco desses oito bailarinos (Aline Karpinski, Dani Dutra, Eduardo Richa, Fernando Faleiro, Joana Amaral, Juliana Rutkowski e Renata Teixeira) que, sendo tão únicos, parecem um só. E eles começam com uma música francesa, o que, é claro, me agrada. Mas, ao longo do espetáculo, ouvimos músicas de diversas nacionalidades. E não é só isso. Existe uma mistura de muitos estilos.  Eles mexem com o preconceito, com essa vigilância sobre o que devemos ou não ouvir e põem em cena músicas que, não raro, são rejeitadas justamente por quem frequenta teatro. Nesse espetáculo, não existe música brega ou de elite.  As escolhas são surpreendentes e a trilha é totalmente eclética.  
Sem nada de cenário, o palco totalmente nu, os bailarinos ocupam o espaço todo o tempo. Não todos. Aliás, um ponto alto de 100 formas para amor é, justamente, o jeito de “costurar” a coreografia de uma música para outra. Quem poderia imaginar aquelas emendas? Aquelas 100 formas de sair de cena? Só na mão de um diretor como Diego Mac tudo pode acabar tão bem conectado e apresentar essa perfeição cênica.
Existe também uma mescla de precisão e criatividade, duas características que, a princípio, nos parecem antagônicas. Em 100 formas de amor, elas estão em cada momento, em cada gesto que mantém tão presente a Macarena que o grupo já mostrou que pode ser poética. Mas, o grupo não mostra só o lado leve do amor, mas, também, os exageros da paixão e do ciúme. E, se grandes chefs de cozinha dizem que não se deve pegar um ingrediente e tentar fazê-lo ser outra coisa, as escolhas desse espetáculo mostram que, às vezes, uma música quer ser outra coisa. Assim, tem horas que, simplesmente, recordamos o que a música traz à memória e, em outras, somos completamente surpreendidos pela proposta dos coreógrafos. São muitos gestos, muitos movimentos, como o revezamento dos bailarinos durante a música Eduardo e Mônica. Nada é previsível na dramaturgia de Gui Malgarizi.
A maquiagem é singela, mas faz brilhar o rosto dos bailarinos, trazendo glamour e beleza, mas não vou fingir que sei como Fabrício Simões conseguiu aquele resultado de iluminação que dá poesia a cada momento, que destaca alguns pares em detrimento de outros e, depois, ilumina todos.
O figurino de Fabrício Rodrigues é sofisticado. As roupas parecem luxuosas e, embora nenhum bailarino esteja vestindo a mesma coisa, existe uma profunda harmonia.
Não consigo deixar de pensar que adoraria receber um abraço como tantos que vi e ser carregada por alguém daquela maneira. Aquela entrega já é o amor. E é justamente a música com esse nome, na versão de Maria Bethânia, que vai mexendo comigo, com a minha vontade de amar assim. Logo eu que já cantei tantas vezes com deboche essa música tão melodramática.
“Mas, tudo isso é pouco diante do que sinto” ... para dar uma pequena ideia da capacidade desse grupo em alternar ritmos, o que, sem dúvida,  exige muito e a gente sai do espetáculo pensando que outra música seria bom vê-los dançar. Que venha o 200 formas para o amor!


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