Cada vez que volto ao Rio de
Janeiro tenho novas impressões. O que comprova que as cidades estão
permanentemente em mutação, assim como as pessoas. Sim, o Cristo está no mesmo lugar (embora eu
só tenha visto de longe dessa vez). O Pão de açúcar também. Aliás, todos os
monumentos, pelo que eu saiba. Eu, porém, certamente, cheguei lá diferente das outras vezes e isso afeta a forma como observei a cidade, agora, sob
a minha ótica em 2013.
A maneira como fui tratada nas
ruas dessa vez foi bem melhor. Consegui
informações das pessoas sobre os locais onde eu gostaria de ir. Uma moça me
ajudou, inclusive, a retirar uma bicicleta para andar pela Lagoa Rodrigo de
Freitas gastando o tempo dela e me proporcionando um dos melhores momentos da viagem. Fui bem atendida em lojas, comércios, etc. Isso,
porém, não facilitou muito o meu trânsito por lá. Dependendo de transporte
público, fui deixada na parada algumas vezes por motoristas que passavam pela
faixa central, correndo, sem dar nenhuma atenção aos potenciais passageiros. Em
poucos dias, porém, comecei a pegar alguns macetes. Escolhi paradas menos
congestionadas, pedi ajuda aos que também esperavam o ônibus para confirmar se
o ônibus que vinha à distância era o que eu desejava e andei, andei, andei, me perdendo e me achando e, nos momentos de maior preguiça, pegava táxi, o que não chega a causar grande prejuízo ao meu pequeno orçamento.
Quanto à moda no Rio de Janeiro é
bem difícil dizer. Lembro que há muitos anos, ficávamos impressionados com a
quantidade de cores e adereços que nossos amigos cariocas gostavam de usar. Os
dedos cheios de anéis, os brincos encostando nos ombros e as fortes cores das
vestimentas eram motivo de comentários. Já não sinto mais esse estranhamento.
Não sei se me acostumei, se também começamos a usar coisas assim... Porém, não
é fácil falar de hábitos locais de uma cidade está repleta de turistas. Mas, embora seja uma cidade praiana, eles parecem ter suas regras. A
gente não vê ninguém nos calçadões de biquíni, nem mesmo maiô. Se for para
andar assim, vá para a areia. Mas é
claro que a gente vê muita gente de bermuda, de chinelo e que chamam a atenção
os homens de terno. Aliás, os homens foram mais gentis comigo do que aqui em
Porto Alegre, abrindo portas, dando passagem, oferecendo lugar. Até no trânsito
alguns motoristas pararam para me dar passagem. Coisas que aqui já não acontecem
mais comigo faz tempo. E isso que há muitas avenidas longas e largas o que, sem
dúvida, faz com que eles gostem de correr e tentar chegar primeiro, como em
qualquer outra cidade um pouco maior do Brasil.
Não aproveitei os famosos
botecos, mas a cidade tem muita oferta de comidas rápidas e gostosas, lanches,
sucos e coisas assim. Já os peixes e camarões mexeriam mais no meu bolso,
então, só foram possíveis nas ocasiões em que meus amigos me “patrocinaram”, como em Búzios, mais precisamente na praia João Fernandes. Coincidência ou não, justamente essa praia foi escolhida pelo The Guardian como uma das oito praias mais lindas do mundo. Não posso opinar sobre isso pois ainda me falta conhecer muitas. mas, sem dúvida, foi um privilégio ter estado lá. Mas convenhamos... flanar gratuitamente pelas ruas do Rio de Janeiro já é algo especial. A
paisagem, misturando mar e serra, é uma das coisas mais lindas que eu já vi e
sempre me impressiona e me encanta. A proximidade da água, a falta de compromisso,
o calor do sol na areia... tudo isso vai relaxando não só o corpo mas a mente. Sou dessas que acredita sim que o clima
interfere no comportamento das pessoas. E por falar nisso o astro rei apareceu
sempre muito timidamente enquanto estive lá. Tinha que apostar que ia dar
praia. Felizmente, ganhei quase todos os dias. Só no último, o que consegui foi me despedir com um banho de chuva como há muito eu não
tomava. A sensação (antes de enfrentar encharcada o frio do ar-condicionado a toda do
ônibus) foi de liberdade, de prazer. Sentimentos que estiveram presentes em toda a
minha estada em férias. Se fosse a
trabalho (o que nunca fiz), as impressões, muito provavelmente, seriam outras.
Não sei quantas vezes já fui ao
Rio. Na verdade, não sei nem mesmo qual foi a primeira. Minhas recordações
estão todas misturadas. Lembro-me de uma época em que fui com o pai e a mãe e
que andávamos de carro por toda cidade, esbarramos em uma gravação com o Antônio Fagundes e a Ana pediu o autógrafo dele no nosso guia que nos permitia descobrir novos lugares, bem como meu
pai gostava de fazer... Lembro de outra em que o meu irmão também estava, com a
minha cunhada e o meu sobrinho e inventava programas como ir a Petrópolis ou a
Paquetá. Lembro-me da minha primeira viagem de avião cujo destino foi justamente o Rio. Lembro-me
do incrível convite para ir ao primeiro Rock in Rio e, é claro, jamais esquecerei de
ter desfilado na Sapucaí devido a um convite inusitado que surgiu por causa da
desistência de outra pessoa.
Dessa vez, não fui a teatro, não
fui a cinema. Não vi nenhum show e, sem dúvida, tudo isso também faz do Rio de
Janeiro uma cidade especial. No entanto, há algo que venho aprendendo com essa
cidade: a vida é feita de escolhas. Não adianta ficar lastimando aquilo que a
gente não viu, aquilo que a gente não fez, o lugar em que a gente não esteve.
Somos exigentes e insaciáveis. Queremos sempre mais e mais. Perdemos a chance
de parar um pouco, respirar fundo e pensar: eu estou exatamente onde deveria
estar, fazendo exatamente o que deveria estar fazendo, seja dentro do ônibus
trancado no trânsito ou com água até o pescoço vendo os dedos dos pés.
Tomara que eu ainda possa voltar
muitas vezes. Que eu possa ir decifrando cada vez mais essa cidade incrível da
qual tenho cada vez mais ótimas lembranças para guardar porque, para quem não sabe,
até o que parece ruim em um momento, acaba sofrendo uma metamorfose na memória
e acaba provocando saudade.
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