Friday, January 25, 2013

O Rio na metamorfose da memória



Cada vez que volto ao Rio de Janeiro tenho novas impressões. O que comprova que as cidades estão permanentemente em mutação, assim como as pessoas.  Sim, o Cristo está no mesmo lugar (embora eu só tenha visto de longe dessa vez). O Pão de açúcar também. Aliás, todos os monumentos, pelo que eu saiba.  Eu, porém, certamente, cheguei  lá diferente das outras vezes e isso afeta a forma como observei a cidade, agora,  sob a minha ótica em 2013.
A maneira como fui tratada nas ruas dessa vez foi bem melhor.  Consegui informações das pessoas sobre os locais onde eu gostaria de ir. Uma moça me ajudou, inclusive, a retirar uma bicicleta para andar pela Lagoa Rodrigo de Freitas gastando o tempo dela e me proporcionando um dos melhores momentos da viagem. Fui bem atendida em lojas, comércios, etc. Isso, porém, não facilitou muito o meu trânsito por lá. Dependendo de transporte público, fui deixada na parada algumas vezes por motoristas que passavam pela faixa central, correndo, sem dar nenhuma atenção aos potenciais passageiros. Em poucos dias, porém, comecei a pegar alguns macetes. Escolhi paradas menos congestionadas, pedi ajuda aos que também esperavam o ônibus para confirmar se o ônibus que vinha à distância era o que eu desejava e andei, andei, andei, me perdendo e me achando e, nos momentos de maior preguiça, pegava táxi, o que não chega a causar grande prejuízo ao meu pequeno orçamento.  
Quanto à moda no Rio de Janeiro é bem difícil dizer. Lembro que há muitos anos, ficávamos impressionados com a quantidade de cores e adereços que nossos amigos cariocas gostavam de usar. Os dedos cheios de anéis, os brincos encostando nos ombros e as fortes cores das vestimentas eram motivo de comentários. Já não sinto mais esse estranhamento. Não sei se me acostumei, se também começamos a usar coisas assim... Porém, não é fácil falar de hábitos locais de uma cidade está repleta de turistas. Mas, embora seja uma cidade praiana, eles parecem ter suas regras. A gente não vê ninguém nos calçadões de biquíni, nem mesmo maiô. Se for para andar assim, vá para a areia.  Mas é claro que a gente vê muita gente de bermuda, de chinelo e que chamam a atenção os homens de terno. Aliás, os homens foram mais gentis comigo do que aqui em Porto Alegre, abrindo portas, dando passagem, oferecendo lugar. Até no trânsito alguns motoristas pararam para me dar passagem. Coisas que aqui já não acontecem mais comigo faz tempo. E isso que há muitas avenidas longas e largas o que, sem dúvida, faz com que eles gostem de correr e tentar chegar primeiro, como em qualquer outra cidade um pouco maior do Brasil.
Não aproveitei os famosos botecos, mas a cidade tem muita oferta de comidas rápidas e gostosas, lanches, sucos e coisas assim. Já os peixes e camarões mexeriam mais no meu bolso, então, só foram possíveis nas ocasiões em que meus amigos me “patrocinaram”, como em Búzios, mais precisamente na praia João Fernandes. Coincidência ou não, justamente essa praia foi escolhida pelo The Guardian como uma das oito praias mais lindas do mundo. Não posso opinar sobre isso pois ainda me falta conhecer muitas. mas, sem dúvida, foi um privilégio ter estado lá. Mas convenhamos... flanar gratuitamente pelas ruas do Rio de Janeiro já é algo especial. A paisagem, misturando mar e serra, é uma das coisas mais lindas que eu já vi e sempre me impressiona e me encanta. A proximidade da água, a falta de compromisso, o calor do sol na areia... tudo isso vai relaxando não só o corpo mas a mente.  Sou dessas que acredita sim que o clima interfere no comportamento das pessoas. E por falar nisso o astro rei apareceu sempre muito timidamente enquanto estive lá. Tinha que apostar que ia dar praia. Felizmente, ganhei quase todos os dias. Só no último, o que consegui foi me despedir com um banho de chuva como há muito eu não tomava. A sensação (antes de enfrentar encharcada o frio do ar-condicionado a toda do ônibus) foi de liberdade, de prazer. Sentimentos que estiveram presentes em toda a minha estada em férias. Se fosse a trabalho (o que nunca fiz), as impressões, muito provavelmente, seriam outras.
Não sei quantas vezes já fui ao Rio. Na verdade, não sei nem mesmo qual foi a primeira. Minhas recordações estão todas misturadas. Lembro-me de uma época em que fui com o pai e a mãe e que andávamos de carro por toda cidade, esbarramos em uma gravação com o Antônio Fagundes e a Ana pediu o autógrafo dele no nosso guia que nos permitia descobrir novos lugares, bem como meu pai gostava de fazer... Lembro de outra em que o meu irmão também estava, com a minha cunhada e o meu sobrinho e inventava programas como ir a Petrópolis ou a Paquetá. Lembro-me da minha primeira viagem de avião cujo destino foi justamente o Rio. Lembro-me do incrível convite para ir ao primeiro Rock in Rio e, é claro, jamais esquecerei de ter desfilado na Sapucaí devido a um convite inusitado que surgiu por causa da desistência de outra pessoa.
Dessa vez, não fui a teatro, não fui a cinema. Não vi nenhum show e, sem dúvida, tudo isso também faz do Rio de Janeiro uma cidade especial. No entanto, há algo que venho aprendendo com essa cidade: a vida é feita de escolhas. Não adianta ficar lastimando aquilo que a gente não viu, aquilo que a gente não fez, o lugar em que a gente não esteve. Somos exigentes e insaciáveis. Queremos sempre mais e mais. Perdemos a chance de parar um pouco, respirar fundo e pensar: eu estou exatamente onde deveria estar, fazendo exatamente o que deveria estar fazendo, seja dentro do ônibus trancado no trânsito ou com água até o pescoço vendo os dedos dos pés.
Tomara que eu ainda possa voltar muitas vezes. Que eu possa ir decifrando cada vez mais essa cidade incrível da qual tenho cada vez mais ótimas lembranças para guardar porque, para quem não sabe, até o que parece ruim em um momento, acaba sofrendo uma metamorfose na memória e acaba provocando saudade.           

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