Thursday, September 20, 2012

“Hay que endurecer-se pero sin perder la ternura jamás”*



É lúdico, é crítico, é poético, é técnico, é genial. Antes de sair, tentei ver quanto tempo tinha para pensar na logística da volta. Não encontrei Fuerza Bruta entre os espetáculos. E não é à toa. Ele está na lista de shows e foi programado para ser apresentado no Pepsi on stage, onde eu nunca tinha ido antes. Não podia ter feito uma estreia mais perfeita. Voltarei a esse local, mas, dificilmente, verei algo melhor. Se bem que quando se trata do Porto Alegre em cena, e do que Luciano Alabarse é capaz de trazer a cidade, é melhor não dizer isso.

Fui sozinha e não lembro quando foi a última vez que fui aos espetáculos sem ver na plateia as caras de teatro. Mas é isso que o festival faz além de incluir diversas faixas etárias e muitas “tribos”. Do salto alto a cabelos roxos e tatuagens. Sem lugares marcados, em um espaço enorme, as pessoas iam chegando sem saber muito onde ficar e havia uma inquietação, um burburinho e uma tentativa de disputar o melhor lugar mesmo sem saber onde seria. Entretanto, assim que somos induzidos a entrar isso já não faz o menor sentido. Durante todo o tempo o foco é mudado de lugar. Somos levados de um lado para outro, obrigados a fazer um movimento conjunto e não individual e, muito menos, individualista. E a tensão que paira no ar nos faz cúmplices e não tenho dúvidas de que provoca em cada um impressões diferentes. Para mim, a fumaça que começava a preencher o ambiente, enquanto todos olhavam para o alto sem espaço para se mover, lembrou uma cena do filme A lista de Shindler quando os judeus entravam para as câmeras de gás ainda sem saber o que aconteceria mas tensos. Dramático, eu sei. Tem pessoas que acham que comentar ou criticar um espetáculo não tem a ver com dizer o que se sente e o que se pensa sob um ponto de vista pessoal. Eu, porém, em geral, não leio o que os outros escrevem, pois tudo que encontro é uma descrição das cenas, o resumo das histórias, meio que se encaminhando para aquele chiste de quem avisa que o protagonista morre no final. Eu, por outro lado, não sei escrever sobre nada se tiver que deixar de lado minhas impressões. Só fiz isso quando escrevia sobre notícias e não assinava os textos. Hoje, quem me lê já sabe que vai encontrar a minha opinião associada com as minhas experiências. E é isso que o espetáculo significou para mim. Mas, não se engane que tudo possa ser assim previsível. Se você pensa que já viu de tudo, devo dizer que esse show prova que não.

Felizmente, a expectativa nesse caso era mais branda, embora as cenas que seriam propostas nos colocariam em cheque com algo pesado, a imagem da violência e a inutilidade do esforço constante em direção a algo que não se alcança nunca. Mas essa é apenas uma das propostas. Existem outras mais leves, divertidas e que também nos envolvem. E quando você está simplesmente maravilhado com os integrantes do grupo, desejando ser um deles, fazer o que eles estão fazendo, eles se misturam com o público e vão além do anúncio feito no início de que você faria parte do espetáculo. Agora, são eles que fazem parte do público. E eles se arriscam fisicamente embora pareçam estar brincando. E eles mostram a beleza estética do corpo humano em movimento. Isso tudo de forma vertiginosa e com um rigor, uma precisão impressionantes. Ao sair, concluo que, se um dia eu pensei que as palavras nos salvariam da nossa desumanidade, hoje, acredito que é a arte. Creio que serão necessárias outras Fuerzas Brutas.

*Ernesto Che Guevara

Ficha Técnica

Direção artística: Diqui James / Direção Técnica: Alejandro García / Produção: Diego Weinschelbaum / Produção Executiva: Analia Turuzzi e Liz Hood / Elenco: flutuante / Duração: 60min / Recomendação Etária: 16 anos

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