Quando tomei conhecimento do
Festival Internacional de Teatro estudantil pensei que não poderia acompanhar,
pois estava envolvida com outras atividades. Felizmente, acabei sendo convidada
pela Coordenação de Artes cênicas para ser analisadora dos espetáculos. Tive
uma pequena participação nesse evento que promoveu workshops, palestras,
debates, além de claro, dos espetáculos.
Dos quase 40 espetáculos
apresentados vi apenas aqueles que comentei. Sete no total. Não vou falar de
todos, pois teria muito que escrever e não é tarefa fácil resumir o que
significou ver esses trabalhos. Uma coisa que repeti em todas as apresentações
foi o meu prazer em ver teatro com tanta gente no palco. Por uma questão de
praticidade, de logística, o teatro de hoje tende a ser de grupos menores e,
até mesmo, monólogos. Assim, ver a
solução desses diretores para garantir a participação de todos, seja criando
núcleos, dividindo funções, mesclando formas artísticas como a dança, a música,
a contação de causos... Em quase tudo que vi havia soluções cênicas
inteligentes e criativas que exigiam dos atores uma maturidade que superou em
muito as minhas expectativas.
Preciso falar também como
foi bom ver em prática essa ideia de fazer pensar a arte através das discussões
com o grupo e com a plateia. Depois de ter sido mediadora da Bienal do Mercosul,
foi ótimo poder fazer isso com teatro.
Por ser uma proposta nova para mim, não sei se fiz certo ou errado, mas não
achei que devesse considerar toda a adversidade que professores e alunos
enfrentam para chegar aos resultados. Tentava olhar com certa frieza, como um
espectador que paga o ingresso e vai assistir a um espetáculo. Sei que isso
deve ter parecido muito injusto em algumas ocasiões, mas acabei me
tranquilizando ao perceber que, toda vez que fazia um comentário mais crítico,
a própria plateia tomava a frente e partia em defesa dos grupos que saiam do
palco com muitos elogios e muito reforço para continuar fazendo o que estavam
fazendo.
O FITE mostrou o resultado
de uma equipe competente que não mede esforços para abrir espaço para as artes
cênicas e que sabe enfrentar diversidades e lidar com os imprevistos deste
evento que me ensinou novas palavras pelo espetáculo de Isaias Quadros com Eros e Thanatos in Pessoa, me fez saber
mais sobre o Rio São Francisco pelo grupo de mineiros, me emocionou com a dura
realidade retratada pelo grupo da CESMAR, me mostrou a liberdade da arte na releitura
de Giselle em cordel, me divertiu com
as histórias do Reino das Névoas e O mágico de Oz. Porém, o melhor de tudo
é que não fez isso só comigo. Atraiu um público de estudantes que, em sua maioria,
se comportou melhor do que plateias adultas, muito mais acostumadas com teatro.
Não havia celulares tocando, fotos sendo tiradas, conversas paralelas. Ao
contrário. Silenciosos, respeitosos.
Durante sete dias, houve uma
movimentação intensa nas salas teatrais da cidade. Workshops, oficinas, gente
trocando experiências, compartilhando conhecimento ou simplesmente fazendo como
o menino ruivo que se aproximou de mim e disse: “Muito prazer. Meu nome é
Leonardo. Que lindo esse teu anel.” Gentilezas que surgiam do prazer de estar
próximo de pessoas que gostam das mesmas coisas, que entendem a importância do “fazer
de conta”. Agora, nada foi mais emocionante e me trouxe mais esperanças no
futuro do que ver a Dona Hilma no palco totalmente concentrada em suas cenas. Uma
senhora de avançada idade, mesclada a um elenco heterogêneo que deixou ainda
mais claro porque o teatro me apaixona. Para fazer teatro não é preciso ser
alto, baixo, magro, gordo, louro, moreno, branco ou preto, jovem, velho.
Fui para analisar, que em
grego significa “dissolver”, para facilitar a compreensão, uma prática utilizada
antes mesmo de Aristóteles como um método para a descoberta de fenômenos
físicos. Sai dissolvida em poesia, em emoção, em energia, entendendo ainda mais
que o teatro é a arte da inclusão natural, onde todos podem tudo e descobrimos
o quanto a vida vale a pena se explorarmos ela com coragem até o fim.
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