Tuesday, April 27, 2010

Estrelas e anjos

Muita gente fala que ficar em casa vendo tv não presta, mas acabo de assistir duas coisas que valiam a pena. Primeiro, a entrevista de Marília Gabriela com Nelson Xavier e Antônio Angelo. Os dois atores falaram sobre o filme Chico Xavier. É gostoso ficar sabendo que Nelson Xavier se irritava quando as pessoas se confundiam e o chamavam de Chico e que, no entanto, este foi o único papel que ele, realmente, quis fazer na vida. Assim, como é divertido ouvir Antonio Angelo dizer que voltou a ter medo do escuro. Para mim, que pouco sei sobre Chico Xavier, mas que estudei durante bastante tempo o espiritismo, agrada que ambos tenham ficado admirados com a pessoa que protagonizaram no cinema. Nelson Xavier chegou a dizer que o papel mudou sua vida. Pelo menos, fez uma grande diferença que ele gostaria de manter. Está mais calmo. Aliás, o jeito manso dos dois fez com que a entrevistadora até brincasse com a situação, dizendo que tamanha tranquilidade a deixava meio desconfortável.

Logo depois, peguei já andando o programa Profissão Repórter que não costumo ver com frequência, mas que está sob o comando de Caco Barcellos que há muito conquistou minha admiração. Pude assistir a dois jovens jornalistas, um homem e uma mulher fazendo a cobertura dos bastidores dos shows de Roberto Carlos nos Estados Unidos. Chamou minha atenção que a jornalista embora nervosa por ir falar com o Rei, acabou perguntando se ele havia composto algo lá em Nova York. Roberto Carlos reagiu de forma extremamente simpática e disse que em mais de 50 anos ninguém havia perguntado isso. Responde que sim e fala de três canções: Emoções, Cavalgada e Lady Laura. Mal sabia ele que, no dia seguinte, receberia a notícia da morte de sua mãe. Antes disso, porém, vi Roberto falando, novamente, com a jornalista, fazendo questão de cumprimentá-la na entrada do teatro. Pareceu-me que o fato dela ter conseguido ser inédita em suas questões havia conquistado o respeito do cantor. Talvez não seja isso. Talvez, ele seja sempre assim. Não sei. De qualquer forma, não tenho dúvidas de que nenhum dos jovens jornalistas poderia imaginar que estariam fazendo parte de um dos momentos mais emblemáticos da carreira do ator. Como se já não bastasse ele estar comemorando seu aniversário, chegando a cortar o bolo no palco, no segundo dia, Roberto receberia a notícia da morte de “Lady Laura”. Seu show seria suspenso e ele retornaria ao Brasil.

Assim, em poucas horas recebi informações jornalísticas curiosas e assisti a inexorabilidade da vida, seja pela história de vida de Chico Xavier, os shows de Roberto Carlos e a morte de “Lady Laura”. Vendo os registros destes momentos, percebo que ando tão acostumada a apenas ler ou receber de “segunda mão” os fatos que ando perdendo o prazer de assistir mesmo que não seja ao vivo momentos como estes e nestas horas, no sofá da minha casa, compreendo porque Roberto pedia para sua mãe o levar para casa.

PS: Falando em estrelas, aproveito para contar que, hoje, minha irmã esteve em contato com crianças que trabalham com os Jogos Boole, criados pelo meu pai, que disseram que sabiam que ele agora era um anjo. Mas não conseguiam entender como ele podia adivinhar que elas não gostavam de matemática.

Friday, April 02, 2010

Chico Xavier: "Eu sou como um carteiro"

Sexta-feira santa. Escutei na tv que era um dia de recolhimento para os católicos. Embora não siga exatamente os preceitos desta religião, virou tradição, pelo menos, comer peixe e tomar vinho. Também não me imagino na farra neste dia. Para dizer a verdade, acho que em nenhum outro, tão pouco. Por outro lado, a vontade de sair por aí era grande. Então, o que sobra? O cinema. Como minha mãe e minha irmã estavam com a mesma vontade, escolhemos ver a estreia de Chico Xavier. Havia achado o Globo Repórter, dedicado a ele, muito fraco. Depois de tantas chamadas, eles ficaram numa conversa mole muito decepcionante. Mesmo para quem acredita na vida após a morte, não acrescentou lá grande coisa. Como sempre, pouco li a respeito do filme. Vi uma matéria em algum lugar e observei que a semelhança entre o ator Nelson Xavier (que faz um dos períodos da vida do espírita) e o próprio Chico Xavier era grande. Conquista do ator, aliás que, sendo bom, tem a capacidade de “clonar” os trejeitos, jeito de andar, tom de voz de seu personagem.
Escolhi o Cinemark do Barra shopping Sul pela proximidade de casa. Já na entrada, fiquei surpresa com a quantidade de gente no cinema. É feriado, é verdade. Mas tem tantos filmes interessantes em cartaz...Não sabia que este tema iria atrair tão bom público para assistir a um filme nacional. Pensei na influência neste sentido de Jorge Furtado, ou melhor, da Casa de Cinema inteira aqui no Rio Grande do Sul. Não fizessem eles filmes do agrado do público e não batalhassem tanto pelo cinema brasileiro, provavelmente não haveria tanta gente naquela sala quase lotada. Logo depois, lembrei da força do próprio diretor, Daniel Filho. Ao fazer Se eu fosse você 1 e 2 e cair no gosto da plateia, também acaba levando muita gente para frente das telas. E, de fato, não há arrependimentos. É preciso conhecimento, experiência e talento para contar a história da vida de uma pessoa tão complexa e, ao mesmo tempo, tão simples quanto a de Chico. Claro que algumas características, talvez, agradem, mais particularmente a mim. A que norteia o filme, por exemplo. Afinal, a história é contada a partir da aparição do médium em um programa de tv até com aquele papo de “corta para a câmera um”. Para mim, jornalista, é sempre um prazer observar estas coisas mesmo que “nos bastidores”.
O roteiro criado joga com cenas do passado e do presente de um jeito que dá dinâmica a um filme que se concentra, basicamente, em seu protagonista e, se não fosse tão bem construído, acabaria por levar todos ao mais profundo tédio. No entanto, o que acontece é, justamente, o contrário. Apesar de já conhecer a trajetória de Chico Xavier (mesmo sem ter lido a biografia de Marcelo Souto Maior na qual o filme foi embasado), o elenco me conduziu pelas cenas de forma agradável e cativante. Angelo Antônio, que já conquistou o Brasil em Dois Filhos de Francisco, tem uma atuação impecável. Luis Melo no papel de pai de Chico também fica na mesma altura. Pedro Paulo Rangel, que sempre me conquista em cena, aparece no papel de um padre. Além de vários outros nomes que vão dando solidez a história como Tony Ramos, Giulia Gam, Letícia Sabatella, Giovanna Antonelli. A novidade para mim é Mateus Costa que faz o personagem menino com muita autenticidade.
No mais, a história é emocionante, sem ser piegas, divertida, sem ser comédia, curiosa, sem ser boba. Não cai na esparrela de tentar julgar as crenças de Chico Xavier ou dos espíritas. É um filme que conta uma história, retrata uma personalidade que diverte e instrui. Em doses homeopáticas traz alguns pensamentos mais conhecidos de Chico. Algumas frases ditas por ele, diálogos com o seu “guia espiritual” como quando ele diz: “Isso é impossível”. E Emanuel retruca: “só se você acreditar que é”. Ou outra, quando ele se queixando das acusações publicadas pela imprensa, ouve: “Jesus foi para cruz. Você só foi parar na revista Cruzeiro”. Momentos como este tiraram gargalhadas de plateia. O filme consegue tramitar entre a vida ordinária e a vida extraordinária do Chico com um capricho que o cinema brasileiro merece.
Confesso que tendo grande simpatia pela temática do filme, não saberia dizer se ele terá o mesmo impacto para quem nunca se sentiu atraído pelo assunto. Embora, eu arrisque dizer que quem gosta de cinema e de gente, não tenha por que não se agradar de Chico Xavier. Do filme ou da pessoa que se dizia apenas um carteiro, um entregador de mensagens. . 

Para quem gosta de ler mais: www.chicoxavierofilme.com.br

ERRATA: Voltei neste fim-de-semana ao cinema e me dei conta que a frase que fala sobre o que é possível ou impossível faz parte do trailler do filme Alice. Nada a ver com o filme do Chico Xavier. Por esta eu não esperava...