A boba da corte
De início, o nome Arte na Corte me parecia um pouco arrogante. Vinha a minha mente reis, rainhas e castelos. Algo esnobe. Porém, o lançamento desta proposta, que visa uma integração entre arte, cultura, língua, música veio para me fazer pensar de uma maneira bem diferente. O lugar provisório no Bom Fim é uma casa antiga, salas de pé direito alto, mesas, sofás, bem aconchegante, na verdade. Sabendo que haveria uma certa improvisação no serviço e que o cardápio seria reduzido, fui surpreendida pelo sabor do que era oferecido e pela simpatia das pessoas que se esforçavam para atender de maneira gentil e eficiente. Rapidamente, as pessoas iam se juntando e era visível que as conversas vinham fácil e a integração ocorria rapidamente.
Assim, estavam todos se divertindo quando Vera Mello pegou o microfone para apresentar as pessoas da casa, um lugar agora chamado Passageiro 59 que pretende manter atividades como esta com certa frequência. O assunto divulgado no convite super bem feito era a única coisa que eu, realmente, já sabia: Tour de France. Entretanto, pouco sabia sobre o tema. Assim, toda e qualquer informação recebida foi bem-vinda. Cansada do longo dia de trabalho, imaginava quanto tempo duraria a fala desta professora de francês que sempre pesquisa sobre o que vai dizer para os seus alunos que, nesta noite éramos nós. Porém, ela teve a sensibilidade de não se estender e mais, o jogo de cintura de descobrir naquele momento que a famosa corrida de bicicleta já não era tão importante assim para os franceses e trazer isso à tona pela voz de um francês que compareceu ao encontro. Desta forma, mesmo que ele viesse para contrapor algumas de suas colocações anteriores, sem dúvida, valorizava ainda mais a apresentação.
Como se isso não bastasse ainda escutamos a vencedora do Festival da canção francesa deste ano Luana Pacheco cantar L’amour. Assim, a Arte na Corte cumpriu com sua promessa de um jeito gostoso de fechar a semana e ainda “entregou” algumas surpresas como eu descobrir que minha irmã, que se diz uma rígida virginiana, fala muito bem em público e ainda por cima no microfone! Fiquei boba. E como nenhum evento, por menor que seja, “termina depois que acaba”, este rendeu conversas que me fizeram descobrir que Samuel Beckett escreveu Esperando Godott justamente por causa de um dos competidores do Tour de France que todos esperavam e que não chegava nunca. Cultura é isso. Algo que cresce e se multiplica. E mesmo que alguns reis e rainhas não soubessem, são mais valiosos do que os bens, pois não acaba nunca e não pode ser roubada. Uma vez que chega até nós, será nossa para sempre.
PS: Por falar em roubar, sai com a caneta que me emprestaram para que eu pudesse fazer as anotações que gerariam este texto.
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