Fui ver Avatar. Não ia. Pretendia tirar depois o DVD. Achei que não era o tipo de filme que me interessava. Até que minha mãe, sim, ela mesma, disse que queria ir. Daí, não dava para continuar esperando. Meu sobrinho a havia convencido de que deveria ver. Minha irmã já tinha ido e disse que valia a pena. Alguns colegas de mestrado também. Muita gente a minha volta. Se bem que meu outro sobrinho, veterinário, vegetariano e amante da natureza tinha dito que não tinha ficado tão impressionado assim. Devia tê-lo escutado.
É um filme 3D e isso me atraiu. A última vez que vi alguma coisa em 3D estava em Paris. Foi em 2001. Voltei falando (apenas para os íntimos, para não passar vergonha) que estar neste cinema tinha sido mais impactante do que o Louvre. Não pelo filme, que nem era lá grande coisa. O que me deixou absolutamente pasma foi saber que bastava colocar uns óculos para que minha percepção sobre as coisas se transformasse. Para mim esta era uma prova concreta de que o mundo não é apenas o que eu vejo. Sei o quanto esta frase parece arrogante, mas convenhamos esta é a tendência: achar que só é real o que a gente está vendo ou, às vezes, até tocando. Tem mais gente devota de São Tomé do que a gente pensa.
Naquela ocasião era uma experiência totalmente nova e isso é uma das coisas fantásticas da vida. Ter sempre coisas para experimentarmos pela primeira vez. Bem, mas o que é novo... assusta. Então, enquanto as crianças francesas entravam sorridentes no cinema, eu estava apreensiva. Eles entregavam os óculos e a gente devia se prender a cadeira. Havia uma espécie de algema onde nossos pulsos ficavam trancados. Esta precaução não me acalmava em nada. É claro que correu tudo bem. Embora o filme fosse feito especialmente para que a gente tivesse mesmo a impressão de que podíamos cair, ser atingidos, mordidos e tudo mais, mas sai ilesa do cinema. Uma sala que é um imenso globo todo espelhado na Cidade das Ciências, no bairro La Villete, chamado “La Geode”.
Bom, mas voltando ao Avatar. Tentei me deixar levar pela história. Os atores também me convenciam. Tenho uma simpatia enorme pela Sigourney Weaver. Gostei dela até em Caça Fantasmas e Na montanha com os gorilas. Ainda lembro quando assisti sozinha no cinema Marrocos no Menino Deus (é claro que nem existe mais) Alien, o 8º passageiro. Um dos vilões do filme, Giovanni Risibi, também já me conquistou faz tempo. Ele se repete em alguns trejeitos, mas dá para sentir sua entrega aos personagens.
Os efeitos especiais e a estética do filme também são impressionantes, lindos e a história vai bem até que a disputa entre um povo e outro se define. Toda e qualquer proposta de algo interessante se dissolve.
Imagino que algumas pessoas vão dizer que não tenho imaginação, que quero filmes realistas, históricos ou sei lá mais o que. Mas não creio que seja este o problema. Não tenho dificuldade em me deixar levar pela idéia de que a tecnologia nos permita um dia ter avatares por aí. Se posso gostar de A Era do Gelo e Madagascar não é exatamente a falta de realidade que me atrapalha. É justamente o oposto.
Minha pergunta é por que pessoas com tanta imaginação para inventar algo assim, precisam recorrer ao mesmo roteiro de sempre? Bandidos contra mocinhos. Guerras e Tiroteios. Já houve época em que eu não entendia bem quando alguém dizia que algo era um clichê. Hoje, ver o militar do “mal” (Stephen Lang) tomando um café no helicóptero que está para bombardear o “paraíso” me faz ficar muito incomodada. Só muda alguma coisa se for outra bebida. Um caldo de cana talvez?
Se era um povo tão ciente dos contatos com natureza, da energia, se estabeleciam conexões com os animais pelo próprio rabo de cavalo, como não sabiam outra maneira de telepaticamente fazer os humanos mudar de idéia, refletir sobre o que estavam para fazer? Por mim, podiam até encostar o dedão do pé um no outro e fazê-los desistir da destruição, da queda de aviões, helicópteros, bombas, etc, etc.
Este tipo de coisa ainda agüento quando é um filme histórico sobre alguma guerra, algo que não há como evitar e de preferência que tenha o Tom Cruise no elenco para me distrair. Ok. O outro Tom também serve. Afinal, O Resgate do Soldado Ryan tem uma das cenas mais trágicas de guerra que eu conheço e que para mim é uma obra-prima.
Com tantos devaneios não sei se fui clara. Avatar não precisava terminar com final feliz, mas este lance de confronto final e cenas de destruição me cansam. Ainda mais quando estamos falando de outros mundos e alta tecnologia. Tudo bem. Talvez, eu precise acreditar que, quando chegarmos a poder usar espaçonaves para ir de lá para cá como vou de bicicleta (bem, se não fosse a preguiça, lógico), o homem já tenha conseguido evoluir também e não partir para algo tão batido como ir lá na terra do vizinho atirar bombas.
Não sou tão ingênua de não ter percebido que o filme trata sobre o poder, sobre disputa de território e sobre coisas de valor que fazem os humanos perderem a cabeça, entretanto não sei se fica evidente o quanto é imbecil (para usar uma palavra que aparece para definir o protagonista no filme) agir egoisticamente. Se já acho uma estupidez hoje, no que se refere somente ao planeta Terra que dirá quando estivermos falando de lugares sequer imaginados.
A estas alturas quem se encantou com o filme já deve estar por conta com as minhas opiniões. Quero deixar claro que não quero desmobilizar ninguém a ir ver. Ao contrário. Acho que as pessoas têm que ter suas próprias opiniões. Se concordarem comigo ok, se não, ok também. Gostaria de receber os argumentos a favor desta história que a mim não cativou.
Até porque se tiver uma continuação que volte no passado e me conte tudo o que a cientista (personagem da Sigourney Weaver) fez para chegar a aquele estágio, eu sou capaz de ir. Não me importaria de ficar sabendo como o povo especial aprendeu a falar inglês. Imaginei que eles eram capazes de fazer uma tradução em tempo real e isto me fascinou.
Porque no mais acho que outras soluções para a convivência pacífica entre os povos não virão. Nem mesmo no cinema. Não nesta encarnação.
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Avatar vem do sânscrito Aval, que significa "Aquele que descende de Deus", ou simplesmente "Encarnação". Qualquer espírito que ocupe um corpo de carne, representando assim uma manifestação divina na Terra.
PS: Enquanto isso... Arruda é preso. Pagam salários de R$ 500,00 aos presidiários. Escolher a pauta em tempos como este não é fácil.
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