Todo ano é a mesma coisa. Quando anunciam a retrospectiva na televisão fico interessada. Acho que é uma maneira de me informar rapidamente de coisas que acabaram passando despercebidas enquanto eu me ocupava com meus próprios assuntos. Porém, o que acontece é que nos primeiros minutos já observo que só foram destacadas as notícias ruins. A ênfase é nas tragédias. A única exceção sempre foi para o esporte. Vitórias do futebol e dos atletas. Só.
Não sei por que me surpreendo. Se o ano todo, a imprensa faz isso porque nos últimos dias ia fazer de outra forma? Não estou dizendo que as notícias são falsas, que tudo aquilo não aconteceu. Nem tem como. As imagens estão lá para provar. Esta, aliás, foi uma característica das coisas divulgadas este ano. Mas tenho absoluta certeza de que existem boas ações, conquistas em outras áreas. Afinal, são milhares de pessoas destinando energia e suor no trabalho, nas escolas, defendendo a natureza, as crianças, os animais, etc. Nada de bom resulta disso tudo? Alguém pode, realmente, acreditar nisso?
Só não entendo o que leva a direção da dita maior emissora do país a repetir sempre o mesmo formato. Qual é o objetivo de encher a cabeça das pessoas no final do ano com tudo que roubaram, com tudo que foi destruído, com todas as mortes, assassinatos? Depois, querem que na virada do ano como se nada tivesse acontecido a gente comece a cantar: “hoje é um novo dia, de um novo tempo...” Não de acordo com a retrospectiva que eles fazem todos os anos.
Pena que não segui com a idéia que tive no ano passado de fazer minha própria retrospectiva. Ir anotando, ao longo do ano, as coisas que me chamavam a atenção. As boas ações, as descobertas, os avanços na medicina. Gente que surpreendeu, que mostrou o valor da vida, do amor, da arte. Esta, talvez, seja uma das razões pela qual acabei tendo tanto interesse no teatro. Saber que neste mesmo mundo em que tanta coisa ruim fica acontecendo, existem pessoas capazes de nos fazer por algumas horas que sejam entrar em outro universo e nos fazer pensar e sentir é algo que me arrebata.
Se o ano de 2009 tivesse, realmente, sido como acabei de ver, eu não estaria com este otimismo. Mesmo que faça até uma forcinha para ficar alienada de algumas situações políticas que, muitas vezes, sugam toda a minha energia e fé no ser humano, não haveria como ficar tão distante de tantas catástrofes. O que estes editores parecem que esquecem é que para condensar tantas informações em tão pouco tempo é preciso contrabalançar. Falar de TUDO um pouco. Porque a vida de qualquer um não foi só as enchentes ou a gripe A ou o dinheiro na cueca. Em 365 dias vivemos também momentos de alegria, solidariedade, otimismo, diversão, amor, sexo, amizade. Momentos tão verdadeiros e significativos quanto qualquer guerra no exterior ou seca aqui no Sul. Se eu, que não paro para preparar um programa destes sei disso porque eles parecem não saber?
Bem, mas antes que você se contamine com este tipo de comunicação equivocada e fique meio sem expectativas, sugiro que você se concentre em algo, uma única coisa que representa que existem pessoas do bem, fazendo algo para o melhor e que estas ações vão trazer resultados. Alguns, já em 2010. Além disso, acredito que a gente possa até mesmo pensar só em si, em sua própria felicidade, nas suas próprias metas, porque se todos fizerem isso não tenho a menor dúvida de que o mundo também vai apresentar melhoras. Independente do que diga a próxima retrospectiva.
Amanhã
(Guilherme Arantes)
Amanhã será um lindo dia, da mais louca alegria
Que se possa imaginar, amanhã redobrada a força
Pra cima que não cessa, há de vingar
Amanhã mais nenhum mistério, acima do ilusório
O astro rei vai brilhar, amanhã a luminosidade
Alheia a qualquer vontade, há de imperar, há de imperar
Amanhã está toda a esperança por menor que pareça
O que existe é pra festejar, amanhã apesar de hoje
Ser a estrada que surge, pra de trilhar
Amanhã mesmo que uns não queiram será de outros que esperam
Ver o dia raiar, amanhã ódios aplacados temores abrandados
Será pleno, será pleno...
No comments:
Post a Comment