Friday, January 08, 2016

A arte nunca nos deixará nus


Dizem os pesquisadores e críticos que um espetáculo de teatro não acaba quando termina. A frase pode parecer um pouco estranha, mas, quase todos nós já passamos pela experiência de ver uma peça e depois ir para um bar bater papo e discutir o que foi visto. Poucas coisas são tão divertidas e interessantes. Tem gente que concorda. Tem gente que discorda. Tem gente que nem viu o que a gente viu. Tem gente que vê coisas que a gente nem sabia que estavam lá. Mas, se tem uma coisa que compreendi desde que comecei a estudar teatro, é que a gente aprende muito com tudo isso. Então, o convite do Plínio Mósca para irmos à casa dele depois do espetáculo Um conto para um rei tonto, em cartaz na Casa de Cultura Mário Quintana, do diretor Igor Ramos, além de ser uma enorme gentileza, era imperdível. A sua casa já vale a visita. Digna de um diretor que fez parte dos seus estudos na França, cheia de elementos cênicos de várias outras partes do Brasil, além de uma coleção de galinhas e outra de xícaras. E foi nesse ambiente que começamos a falar sobre a sobrevivência no teatro e fora dele. Afinal, subir no palco paga as contas? Confesso que entre os meus amigos não sei de ninguém. Todos fazem alguma outra atividade. E por que esse foi o primeiro assunto? Porque no grupo que se apresentou hoje está Josué Fraga, de 16 anos, que, apesar do nítido talento, está prestes a se afastar da cena por pelo menos um ano para fazer um curso pré-vestibular, cujo objetivo não é ingressar na faculdade de Artes cênicas porque a família teme pelo seu futuro financeiro. O que me restou foi dar alguns palpites e acreditar que, mesmo que ele precise tomar uma certa distância, o teatro estará sempre no seu caminho. Caso contrário, como não se abalar com essa ruptura de um ator capaz de dominar seu personagem de bobo da corte, fazendo jus ao seu chapéu de cinco pontas e guizos? Esse personagem com papel fundamental nessa história recontada pelo Grupo Experimental de teatro que traz também no elenco Larissa Vaz, Mariana Fagundes. Um texto já tão conhecido, mas exposto de forma intrigante em que um rei escuta a história do outro rei vaidoso que acaba desfilando nu. Essa fábula que eu já ouvi tantas e tantas vezes, mas nunca nessa versão e muito menos nessa marcação cênica tão clara e definida em que os atores seguem no palco mesmo quando não fazem parte da cena. Desse figurino cheio de cores e brilhos que são uma das provas do cuidado que o diretor tem com todos os seus trabalhos. E como é bom poder ver tomar forma aquela fantasia do nosso imaginário na figura da ama feita pela Juliana Johann. E, cuidado, não simpatize com a costureira inescrupulosa que finge costurar o tecido invisível no ar com a eficiência dos melhores costureiros parisienses, papel da Renata Severo. Dá para sentir que é um trabalho conjunto, resultado de um processo de trabalho que vai buscando encontrar um único rumo para pessoas diferentes, com características distintas. E, mesmo depois de ouvir todos os ajustes que o nosso anfitrião e a mestre em letras e dramaturga premiada, Natasha Centenaro, sugeriram ao diretor do espetáculo que ouvia atentamente, em relação ao ritmo da peça, ao figurino, à luz e algumas características dos personagens e falas (com os quais concordo com quase todos) o que fica na minha memória é um mergulho nesse universo das artes, no prazer de compartilhar sentimentos e ideias e a visão de uma bandeja cheia de brigadeiros. Sim, porque, não só a arte, mas os amigos artistas também nos alimentam.

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