Monday, April 28, 2014

Cazuza: um cometa que cruzou os céus do Brasil

Não, eu não o conheci. Nem mesmo morávamos na mesma cidade. Mas, acho um privilégio ter sido contemporânea desse artista brasileiro. E o melhor comentário que posso fazer sobre o Cazuza – Pro dia Nascer feliz, o musical é que ele me fez sentir uma saudade ... Li essa semana que a vida de uma pessoa deve ser avaliada pelas lembranças que deixa. Nesse caso, nem preciso comentar o que significa. Acho que deve ser extremamente complicado para um ator representar o papel de alguém que causou um impacto tão profundo. Creio, no entanto, que todos que viram o espetáculo ficaram impressionados com a semelhança (não física) de Emílio Dantas com o original. E, embora a gente sempre escute que, ao interpretar uma pessoa real, não se deve buscar ficar igual a ela, é uma delícia poder rever os trejeitos, o jeito de falar, andar, cantar de alguém tão singular. Entre os outros atores, destaco Susana Ribeiro no papel de Lucinha Araújo, mãe do Cazuza. Assim como Marieta Severo no filme, a atriz soube levar à cena esse rigor de uma educação tradicional associada a um amor infinito e a aguda percepção de que estava diante de um ser que não lhe pertencia. O trabalho do ator Marcelo Varzea no papel de seu pai também sublinha as cenas com a dramaticidade que nos leva a sentir os desejos e o amor de todo pai. Severo em relação às atitudes inconsequentes do filho e amoroso diante das suas fragilidades. Sua atuação é sutil, mas dá todo o apoio para o protagonista. Fabiano Medeiros (Ney Matogrosso e Guto Graça Mello), também se destaca no personagem de Ney Matogrosso, principalmente, no seu solo apresentando uma das músicas do Cazuza gravadas pelo cantor. Os demais atores sustentam bem as cenas e mesmo que alguns façam caricaturas de gente importante como o Caetano, isso torna a peça divertida, mas é o protagonista que brilha. E, como nem tudo é perfeito, uma das atrizes tem uma voz anasalada, que eu odeio. Nem me importo em saber se quem ela representa possui a mesma voz. Não faço a menor questão de ver alguém assim cantando em cena.
Não tenho dúvidas de que fazer um musical é difícil. São muitos elementos. Exige uma integração de todos os atores, assim como competência vocal. A direção de João Fonseca traz uma dinâmica agradável e intercala trechos da vida de Cazuza com várias canções e, atenta ao enredo, às vezes, deixo de perceber a força da música. Ao mesmo tempo, fica a impressão de que sem elas, a parte “dramática” não se sustentaria. Ficamos diante de um show que não é do Cazuza, mas que nos remete às suas apresentações. Suas letras, suas músicas são de uma riqueza... Podemos ter nossas preferências, mas não há como não gostar de alguma. Não tinha como não me emocionar. Várias canções me levam para o passado, mexem com emoções que tanto me questionaram. Eu, criada por uma família aparentemente tradicional, jogada naquele universo da contravenção de Cazuza, da sua irreverência, do seu desejo incontrolável de liberdade. E enquanto no palco a energia cresce, acho interessante observar a plateia nos musicais. Ninguém se mexe. Creio que ninguém canta também. Tenho que parar para me dar conta de que isso até faz sentido, pois não é um show. Mas, era certo que estavam gostando. Aplaudiam cada número em cena aberta.
O figurino se ajustava perfeitamente a cada personagem, da forma bem realista. Já o cenário, explorava mais uma vez as plataformas elevadas. Não chegava a atrapalhar, mas também pouco acrescentava.   
Vemos no palco, a mesma mudança que vimos na vida. A doença ganhando terreno na vida de Cazuza, mas sem tirar o seu humor, a sua irreverência. E tudo vai ficando mais triste, mais pesado e eu penso: como eles vão conseguir finalizar isso sem resumir Cazuza à Aids? E eles conseguem. Trazem todos os atores ao palco, junto com o Cazuza do início, o Cazuza que ficou, que canta para nós até hoje. Falam também da Sociedade criada por sua mãe e tantas crianças fazendo com que Cazuza seja muito além de um cantor que deixa uma obra musical, mas que ainda hoje transforma a vida desses seres que representam o futuro.
Como jornalista, gosto da inclusão da cena da entrevista com Zeca Camargo quando ele revela, finalmente, que tem a Síndrome. Aliás, o texto de Aloísio de Abreu soube sintetizar o espírito, o senso de humor de Cazuza, o que leva a plateia a rir de várias cenas. Já a direção musical de Daniel Rocha também ganha reconhecimento do público pelos aplausos após cada número. Não posso esquecer de mencionar a banda que os acompanha. Impecável.
No fim, todos levantam, gritam, aplaudem. Os atores agradecem a forma como o teatro os recebeu. Infelizmente, eu não posso fazer a mesma coisa. Quando a Fernanda Petit comentou sobre Cazuza, o musical, a minha verba era curta. Assim comprei um ingresso para Galeria Alta à direita. É claro que não esperava uma visão perfeita do palco, mas acabei sentada do lado de um canhão de luz e por mais afeto que tenha ao meu professor de iluminação Nilton Filho não tinha nenhuma intenção de sentir um calor na orelha cada vez que o técnico tivesse que jogar a luz no palco. Ele mesmo me advertiu que eu não poderia me mexer, pois atrapalharia. Imagina eu ofuscando o Cazuza? Assim, no intervalo, vendo cadeiras vazias, resolvi mudar de lugar. Falei com uma das moças responsáveis e ela disse que teríamos que esperar recomeçar para ver quais cadeiras sobrariam. A estratégia não parecia dar certo já que outras pessoas também buscavam melhores posições. Tentei sentar em um lugar que me parecia vago. Não era. Ao tentar sair, uma moça me disse que aquele não era mesmo o meu lugar. E eu pensei: nem o dela. Afinal, quem vai assistir Cazuza com uma mentalidade mesquinha ou grosseira, definitivamente não está à altura desse grande poeta. Assisti mais de hora do espetáculo em pé. Mas, sabia que me distrairia o suficiente para esquecer o desconforto.
Concordo, totalmente, com sua mãe: Cazuza era um sol e chorei por ele, por mim, por nós. Afinal, ele se foi em 1990 e o que mudou de lá para cá? No Brasil, que precisa mostrar sua cara, quase nada. Felizmente, tivemos alguns avanços contra a Aids e todo o preconceito que havia em relação a ela.  Embora Cazuza tenha adiado contar o que tinha para evitar, principalmente, a pena das pessoas, é impossível não pensar o quão trágico foi o que aconteceu com ele. Ou conosco. Afinal, que falta nos faz um artista com o poder de dizer tanto através da poesia. De ser absolutamente contundente, sem chegar a agredir. Não tem como não pensar na perda que sua partida significou para a música. Quantas letras incríveis ele poderia ter feito? Músicas que falassem de amor, de indignação, de todos os conflitos da alma. Não. Eu não vejo ninguém ocupar esse espaço e sinto as lágrimas escorrerem ao pensar que vida breve... Que vida intensa... Que vida imensa!

http://youtu.be/IOSwTcUIreU



1 comment:

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