Monday, September 27, 2010

Em tempo de eleição

O que mais preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem ética.



O que mais preocupa é o silêncio dos bons.



Martin Luther King

Friday, September 17, 2010

O alemão Hans-Thies Lehmann destaca o teatro pós-dramático

Sérgio Maggio


Publicação: 08/09/2010 08:46

É cada vez mais comum o espectador sair de um espetáculo sem saber se é teatro, dança, performance, show, artes visuais. Atordoado com tanto cruzamento de linguagens, não consegue conceituar o que lhe parece escapulir aos padrões do drama convencional, com narrativa sustentada num texto de começo, meio e fim. A confusão estética, que se acentua como um problema de fruição, tem resposta, ou melhor uma bela análise no livro Teatro pós-dramático, do alemão Hans-Thies Lehmann, que virou leitura obrigatória entre estudiosos das artes cênicas.

Na segunda-feira, o encontro que parecia improvável, para quem encontrou alento nos conceitos do teatrólogo alemão, concretizou-se no Teatro Helena Barcelos (do Instituto de Artes da UnB). Leitores e autor ficaram frente a frente para ouvir as noções que norteiam a obra do alemão Hans-Thies Lehmann. Estudantes, professores e artistas encheram o espaço para acompanhá-lo atentamente. Bem-humorado, o teórico falou sobre a crise do drama burguês, questionado logo ao fim do século 19, e voltou para os elementos da tragédia grega (o coro, a máscara) a fim de mostrar que a arte de hoje dialoga melhor com a história, retomando elementos rituais e da ancestralidade.

- No século 20, diversos campos do conhecimento (sociologia, linguagem, psicanálise) apontam um novo conceito para o ser humano, que não é mais um ente autônomo e, sim um sujeito levado pelas circunstâncias. E o teatro responde a isso, rompendo com a identificação do drama moderno em que o homem é visto como herói, observa.

Vida absurda

Lehmann brinca e faz até piada. Lembra aqueles que definem o teatro do século 20 como o teatro do século 19, da ideologia burguesa que nasce com o renascimento e se prolonga. Mas ressalta que Shakespeare não precisou de Beckett para reafirmar o absurdo que é a vida humana.

- Basta lembrar a célebre frase de Shakespeare: "A vida é feita de som e fúria sobre o nada".

Essa resposta ao homem que é afetado pela circunstância social surge reposicionando o papel do espectador, na explosão dos espaço cênicos, numa dramaturgia do corpo e da voz, na fragmentação da narrativa, no papel do ator, que agora não só representa, mas também se presentifica no palco. Apresenta-se também como um ser político. Lehmann não cria um rótulo para ser aplicado nesse ou naquele teatro, apenas fornece um arcabouço teórico para que se entenda uma cena complexa, que já não cabe mais nas relações clássicas de texto, diretor, ator.

- São formas híbridas que se manifestam em possibilidades para o teatro questionar o papel do espectador de provocar o seu olhar diante da sociedade do espetáculo, observa Lehmann, que ainda orientou individualmente trabalhos de pesquisa ao lado da professora Eleni Varopoulou, especialista em teatro grego antigo e contemporâneo.

A vinda do alemão Hans-Thies Lehmann para a UnB foi organizada pela Tanteatro Companhia em parceria com o Laboratório de Dramaturgia e Imaginação Dramático (Ladi), coordenado pelo professor e dramaturgo Marcus Mota.

Esta é a terceira vez que o crítico e professor de teatro alemão Hans-Thies Lehmann vem ao Brasil. Ele esteve aqui, em 2006, e integrou as comemorações ao cinquentenário de morte do dramaturgo alemão Bertolt Brecht. Em 2009, voltou para lançar Teatro pós-dramático. Agora, visita universidades em São Paulo, Porto Alegre, Florianópolis e Salvador.


Mestre
Hans-Thies Lehmann é um dos mais importantes teóricos do teatro contemporâneo e da estética teatral. É professor de Estudos Teatrais da Universidade Goethe, em Frankfurt am Main/Alemanha, e membro da Academia Alemã de Artes Cênicas. Entre seus livros destacam-se Teatro Pós-dramático e Escritura política no texto teatral.

Para saber mais

Outra forma de fazer arte

O que Lehmann propõe no livro, sobretudo, é a quebra de um paradigma para um teatro em crise, que não é mais capaz de atender as demandas do homem do século 20, perdendo-se como linguagem diante de meios potentes da indústria midiática, como o cinema e a televisão. Esse teatro burguês, sustentado no diálogo e na identificação do homem como um ser capaz de alterar o destino, entra em colapso por não mais ser capaz emancipar o espectador como um agente ativo de recepção.

Ao longo do século 20, aos poucos, premissas estéticas questionaram o lugar do drama e a força do texto como um guia da representação. Outros autores, sobretudo os do teatro do absurdo como Samuel Beckett, trituram a dramaturgia aristotélica em fragmentos, ao passo que homens de teatro, como Brecht, propuseram técnicas capazes de emancipar a audiência. Isso sem falar no vertiginoso avanço das tecnologias e da adesão de seus elementos na cena, erguida também com a narrativa das artes da imagem, do cinema, das artes plásticas, do circo.

O teatro pós-dramático seria provocado pelo teatro de estética pós-moderna dos anos 1960 e começa a se estabelecer, sobretudo, na década de 1980. "Esta nova forma teatral não procura suscitar a adesão do espectador, mas provocar sua percepção ou emoção significativa. Os aspectos fragmentários desses textos, ou dessas montagens, permeiam uma reescritura cênica que engloba os aspectos textuais, cenográficos e os problemas que são propostos por um jogo não necessariamente psicológico."
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Eu não disse que a palavra não era nada {...} disse que o teatro não se limitava à palavra. Juntei o corpo à palavra {...}. Procuro, para além da palavra, a razão da palavra e, para além da gesticulação, procuro o mito (em 1947).

Antonin Artaud - in Cahiers de la Pléiade, VII, Printemps 1949; Paris, Gallimard, p.109. Ao ler as críticas ao seu texto Le Théâtre et son Double (1938), publicadas no jornal Combat.

Correio Braziliense



http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia182/2010/09/08/diversaoearte,i=211950/O+ALEMAO+HANS+THIES+LEHMANN+DESTACA+O+TEATRO+POS+DRAMATICO.shtml

Thursday, September 09, 2010

“Unhappy theater”

Cinco anos se passaram desde a última vez que estive no Theatro São Pedro para assistir Happy Days de Peter Brook. Lembro que quase morri de tédio. Mas não sabia dizer se o espetáculo realmente não prestava, pois meu irmão havia morrido naquela semana aos 49 anos de um ataque cardíaco fulminante. Tentei seguir assistindo aos espetáculos como uma homenagem a ele que, certamente, gostaria que eu continuasse as minhas atividades, sobretudo as que, normalmente, me dariam prazer. Porém, nenhum talento cênico conseguiria aliviar o sentimento que me ia à alma. Lembro que no intervalo perguntei a um colega que conhecia o texto se valia à pena ficar, se melhorava e, como havia de fato uma mudança, ele disse que sim. Entretanto, o que acontecia não podia ser considerado como algo positivo, ainda mais naquele meu estado de espírito. Pois bem. Hoje, voltei.

Estou acostumada a ver Eva Sopher na entrada, mas desta vez lá estava Luis Fernando Veríssimo que, para mim, é praticamente um personagem, pois existe o texto de LFV e o próprio e, mesmo que não o conheça de perto, desconfio que eles sejam bem diferentes. Bem, mas sempre gostei de ir ao teatro e, embora não queira parecer arrogante, devo dizer que meu sentimento é ainda mais intenso agora que sou mestra em artes cênicas. Explico: ver o Theatro São Pedro lotado já me deixa feliz e é nestas horas que uma quinta feira sem graça se transforma em um happy day.

Levanto para cumprimentar Sandra Dani e Luiz Paulo Vasconcellos que, agora, considero meus amigos. Muitas outras caras conhecidas estão espalhadas pela plateia. Laura Backes, Inês Marocco, Mirna Spritzer, Flávio Maineri, Mônica Bonatto... Assim como muita gente que nunca vi e outras que eu gostaria de conhecer. De repente, me dou conta que já faz mais de dez anos que entrei neste universo. Como eu sempre soube, é um povo diferente este do teatro, gente que continua me atraindo. Desta forma, apesar de ainda não terem dado o sinal, nem apagado as luzes, sinto que o “evento” teatro já começou.

O espetáculo começa. A atriz murmura alguma coisa e eu penso: em que língua ela está falando? Só depois reconheço que é francês. Mas sem legendas? O que ela dizia não era nada de tão importante, mas podia imaginar como as pessoas que não sabem esta língua (ah...coitadas) deviam estar angustiadas por não compreenderem. Na hora, lembrei de um espetáculo que assisti no SESI em alemão onde todos riam e eu imaginava que era muito estranho tantas pessoas compreenderem. Só depois me dei conta de que eu é que não estava vendo a legenda. Assim, hoje, comecei a procurar onde estaria e aos poucos, apesar de toda a luminosidade que vinha do fundo do palco comecei a enxergar as letras. Uma senhora ao meu lado coloca seus óculos escuros. O efeito de contraste entre o morro negro onde se encontra a atriz e a luz de fundo, apesar de esteticamente muito interessante, provoca desconforto e atrapalha completamente a leitura.

Enquanto a monotonia começa a chegar, lembro das mediações feitas na Bienal e me pergunto: sobre o que é o espetáculo? Mesmo encontrando respostas como: é sobre o patético da vida, sentia que algo não estava funcionando ali. A platéia faz um silêncio enorme. Mesmo as tosses, tão comuns nestes momentos, estavam praticamente sumidas. E, enquanto o texto vai sendo despejado com um sotaque que mais me lembrava uma feirante em Marseille, vou sentindo necessidade de olhar o relógio. Havia se passado apenas meia hora e o sono já começava a chegar de forma incontrolável. Logo eu que este ano fiz questão de não comprar ingressos para o espetáculo japonês com medo de que eles botassem toda a minha cultura ocidental para dormir.

Para não achar que esta sonolência era apenas fruto da minha ignorância começo a tentar fazer reflexões sobre a dramaturgia de Samuel Beckett. Afinal, sou encantada com Esperando Godot e ainda lembro como foi incrível dizer algumas falas deste texto na montagem de Zé Adão Barbosa nos tempos em que fazia oficinas. Sigo meu raciocínio: humm, há aqui uma não relação e ao mesmo tempo uma dependência entre os personagens....Enquanto me disperso em minhas análises, chega o intervalo. É quando o professor Mainieri me pergunta: “tu fazes crítica?”. Falo do meu trabalho de mestrado que me incentivou a querer escrever sobre os espetáculos já que sigo não encontrando uma definição que me convença sobre as diferenças entre opinião, comentário e crítica.

Troco minhas impressões com algumas pessoas e além de concordarmos que o espetáculo está botando para dormir, descubro que isto ocorre porque há um problema na interpretação da atriz que apenas despeja o texto, acrescentando interjeições desnecessárias. Neste momento, concluo que há uma falta de sutileza na hora de dizer as palavras do texto cujas intenções do autor precisariam ser respeitadas. Caso contrário, como dizia meu professor Sergio Silva, tudo pode estar perdido. E é isso que está acontecendo ali.

Apesar da introdução de alguns ruídos semelhantes a trovões (que não recordo de ter ouvido na montagem de 2005) estou de novo com os mesmos sentimentos daquela última vez em que assisti a montagem de Happy Days e posso garantir que este ano não tenho a morte de nenhum parente próximo que possa justificá-los. Felizmente, sabia que faltava, aproximadamente, 40 minutos para terminar e, quando isso acontece, as pessoas aplaudem de pé, algumas gritam bravo e eu concluo, mais uma vez, que certamente a minha “opinião comentada criticamente” não vai agradar todo mundo. Não faz mal. Defendo, justamente, a provocação do debate que em casos como este costuma ser muito mais interessantes do que a própria obra. São os mistérios da arte.

PS: Caso não tenha ficado claro, o espetáculo era legendado.

Thursday, September 02, 2010

Divulgação de espetáculo

"A FUGA"


Estréia SEXTA-FEIRA 3 de setembro!

"A FUGA" é uma emocionante história de luta, superação e amor!

A vida de uma mulher corajosa, casada, com 11 filhos que, em 1910 fugiu de um marido agressivo,e de sua cidade - Santa Vitória do Palmar - rumo à cidade de Rio Grande, levando 8 de seus 11 filhos, numa carroça de boi... numa viagem de 32 dias!

Peça adulta - Tempo aproximado: 30 minutos.

TEATRO GLÊNIO PERES - Av. Loureiro da Silva, 255. Centro. (Câmara Municipal)

(Estacionamento cortesia no pátio).

Todas as sextas-feiras do mês de setembro: 3, 10, 17 e 24 às 20 horas Entrada franca.

Dia 10 de setembro, intérprete de LIBRAS (linguagem para surdos) com Mariana Alencastro