Assim que fui convidada para a
formatura da Isadora Kolecza confirmei minha presença. Ando meio preguiçosa,
mas não dava para não participar de um momento desses. Ao contrário de outras
pessoas que tem medo de envelhecer, eu gosto de sentir a passagem do tempo,
principalmente quando ele representa conquistas. Conheço a Isadora desde que
nasceu. Fui a alguns aniversários dela e até hoje comento o delicioso bolo que
a sua avó fez em uma dessas datas. Algo, realmente, inesquecível. Minha irmã,
Ana Mello, como costuma me fazer companhia e também conhece a família,
confirmou que iria comigo. Já minha mãe, tinha recomendações médicas para
evitar lugares de muito movimento por mais uns dias. No entanto, na véspera,
disse que iria, pois, gostava muito da mãe da formanda, a jornalista Rita
Escobar, e queria estar lá nessa hora tão importante para ela.
Já na entrada, a estrutura do Centro
de eventos da PUC impressiona, assim como a organização. São muitos
profissionais espalhados por todo lugar para orientar os convidados. Mal
chegamos, e tivemos o prazer de ver a Isadora, vindo em nossa direção, toda
sorridente e de toga. Gentil como sempre, explicava que estava tranquila mesmo
sendo ela a oradora da turma. Logo depois, encontrávamos o resto da família,
incluindo o meu afilhado Pedro Escobar que quase não reconheci. Já fazia um bom
tempo que não nos víamos e já ia longe o menino tímido que havia saído da minha
casa. Lá estava um “rapaz”, como diria minha vó, com cabelos cumpridos e todo
elegante.
Começa a cerimônia. Cantar o hino
em época de Olimpíadas tem outro sabor. Por alguns instantes, sintonizávamos com
aquele momento de orgulho do nosso país. Alguns outros procedimentos mais
formais e começava a entrega dos diplomas. Magda Cunha, minha contemporânea da
época em que cursei jornalismo, presidia o evento e fiquei imaginando como deveria
ser prazeroso saber que ela contribuíra para aquele momento que, como ela mesmo
disse depois, é um fim, mas também um começo. E, assim, a obrigação de repetir
as mesmas palavras tantas vezes deveria
trazer uma gostosa satisfação interior.
Ver a cerimônia me fez lembrar que
havíamos escolhido o jornalista Marx Leonam para ser o nosso paraninfo e que eu
nunca havia buscado as fotos da minha formatura. Na época, resistia às
formalidades e não fiz questão de ter esses registros. Hoje, me arrependo.
Gostaria de ter essas fotos. Lembro que o fotógrafo guardava as fotos por cinco
anos e durante todo esse tempo eu de vez em quando lembrava que deveria ir
buscar alguma, mas nunca o fiz.
Carlos Kober, entre outros professores
da minha época também vieram a minha mente. Assim como colegas como a Rosangela
Batistella e o Humberto Trezzi com os quais voltei a ter contato, pelo menos
virtual. Enquanto outros nomes iam sendo
chamados, eu recordava o jeito da Rosangela sempre muito lúcido de argumentar,
sempre compenetrada em todas as tarefas e das discussões que tinha com o
Humberto em sala de aula, pois ele era
muito mais politizado que eu, mas assim mesmo eu insistia em defender meus
argumentos. Refleti o quanto isso havia me auxiliado a desenvolver esse jeito
de dizer sempre o que penso.
Houve, também, momentos
emocionantes como as entregas dos diplomas por familiares que já haviam feito a
mesma formação como no caso da Rita que entregou o canudo para a Isadora.
Fiquei emocionada, com os olhos cheios de lágrimas, imaginando a importância
que isso tinha para a Rita já que eu a conhecera no início da sua vida
profissional. Chamou-me a atenção,
porém, como poucas pessoas escolheram músicas brasileiras para a hora da
entrega e como todos (e era uma turma grande) eram bonitos, tantos os homens
quanto as mulheres e jovens, é claro!
O discurso da Isadora e do seu
colega teve sempre um toque divertido, mas, ao mesmo tempo, respeitando o significado
daquela etapa. Comentaram sobre um professor que havia deixado claro que o
termo marketeiro não deveria ser usado e fizeram ironias sobre o fato de que “publicitários
não comem, degustam, não pensam, têm insights”, etc. Conscientes de que estavam
vivendo o final de uma etapa, destacaram a passagem do tempo, lembrando que
quando entraram ali a palavra “ideia” ainda tinha acento, bem como outros fatos
ocorridos durante aqueles anos de faculdade e ressaltaram o poder do
comunicador de influenciar outras pessoas. Fizeram um paralelo entre o desconforto
de quando chegaram e o de estar saindo e brincaram com o fato de agora já
poderem ter seus próprios estagiários.
Os demais discursos foram breves,
o que, para mim, já significa que não se passa por uma faculdade de comunicação
em vão. No mínimo, aprende-se que não é
a quantidade de palavras ditas que importa, mas a qualidade delas e somos
treinados a editar o que queremos dizer para criar potência ao que é dito,
transmitir o que queremos sem perder o interesse da plateia para qual falamos. Assim,
o paraninfo da turma também fez um discurso que, mesmo repetindo palavras
previsíveis como estar feliz e orgulhoso, soube reforçar o principal ao dizer
que o bastão que eles recebiam ali significava uma conquista e que eles deveriam
evitar de parar de estudar. Disse também que a medicina criou muitas próteses,
mas nenhuma para a alma e fazendo uma citação disse que “só se descobre novos
mundos quando não se vê mais a costa”.
Gostei de ver que, além da
entrega do destaque para o aluno com melhor rendimento, foi entregue também um
para o aluno mais solidário, dando valor não só a pessoa com melhores notas,
mas também aquela que se mostrou mais amiga dos colegas, mais presente. E, tive
a prova de é a mais pura verdade que, aqui no sul, as pessoas cantam com mais
entusiasmo o Hino Rio-grandense do que o brasileiro.
Assim, depois de abraçar a mais
nova publicitária do mercado, voltei para a casa ainda vibrando com o
sentimento de que o passado e o presente haviam se interligado e que, como
dizia Pierre Bourdieu, somos resultado de todas as nossas experiências, de tudo
que vivemos e de todos que encontramos em nosso caminho, reforçando o que o
paraninfo tinha dito: “ninguém pode nos tirar o conhecimento que adquirimos”.
Lindas palavras, é uma alegria a gente ver essas crianças que a gente viu nascer (acho que fui o primeiro amigo que foi visitar a Isa na maternidade) tornando-se profissionais. Dá um orgulho, porque minimamente colaboramos para isso, com palavras de incentivo, sorrisos e amor.
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