Primeiro pensei nos
equívocos que poderia cometer ao escrever sobre um texto que tão pouco conheço.
Uma das obras de Shakespeare, meu autor
preferido, que ainda não li. Mas, afinal, o teatro exige conhecimentos prévios
ou a pessoa que vai assistir deve compreender o que acontece em cena mesmo que
seja a sua primeira vez na plateia? Enquanto me questiono sobre isso, resolvi
comentar sobre o espetáculo que assisti ontem. Não há dúvida de que os atores Caco Ciocler e Carmo Dalla Vecchia são capazes de
bem interpretar o texto dando vida, inclusive a mais personagens. Entretanto, apesar da competência do elenco
enxuto, estranho a proposta cênica do diretor Roberto Alvim para Ceasar.
Minimalista, eu diria. Quase nada de cenário. Um figurino austero, todo negro. Há
poucos dias, eu comentava sobre as radionovelas. Essa peça me trouxe novamente
à lembrança. Ficaria extasiada se apenas ouvisse o espetáculo. Ao ver, porém, os poucos gestos dos atores
não me tocam. Os deslocamentos são contidos, partituras. A fala dos atores é
cheia de nuances. Mas, assim como murmurar por muito tempo ou gritar por vários
momentos torna exaustivo para quem assiste, oscilar entre esses dois, também
pode causar um desconforto que não me parece proposital.
Há um jogo de luz e sombra
interessante. Coloca ou retira os atores da cena. Sublinha, ofusca ou suaviza. Mas daquela
limpeza toda de elementos, de repente, uma vela parece ser um dos poucos itens
a trazer algo que elimine a ausência de tudo. Mas, também me dá a impressão que
destoa de todo o resto. Assim, como o acender dos charutos.
É bom um teatro que dê tanto
valor ao texto. Ainda mais de um autor que parece ser tão preciso em cada palavra,
porém, essa escolha de deslocamentos ríspidos não me conquistou. Essa limpeza
de movimentos tão radical deixou, a meu ver, o texto frio, mesmo que fale de
conspirações e assassinatos. A música é o elemento mais teatral do espetáculo. A trilha sonora de Vladimir
Safatle executada ao vivo no piano é um personagem. Ela dá
dramaticidade, suspense, suaviza e quase agride, provocando diversos momentos
de tensão. Quem diria que o simples fechar de um piano repetidamente pareceria
quase um tambor? Em determinados momentos, chega a roubar a cena, eu diria. Cena
esta que quase não existe.
Engana-se, porém, quem pensa
que com isso, quero dizer que não valha a pena assistir. O teatro estava lotado
e os aplausos do final garantem que a plateia não está de acordo com as minhas
impressões. O teatro sempre significará coisas distintas, provocando sensações
e opiniões diversas para quem assiste. Assim deve ser a arte. Assim deve ser a vida.