Voltei de Gramado na segunda para viajar para Florianópolis na quarta à noite onde apresentaria o meu trabalho na Jornada Latino Americana de Estudos teatrais. Outras duas colegas estavam no mesmo ônibus. Não tenho problemas para dormir em viagens noturnas. Assim, três horas depois estava em Sombrio onde só acordei devido ao aviso do motorista. Já amanhecia quando comecei e ver a ponte Hercílio Luz. Com o apoio das colegas e de uma em particular que já havia morado por lá chegamos a UDESC. Eu com uma mala que já começava a parecer inapropriada nas roletas e nas escadarias da Universidade.
A inscrição não foi cobrada e já fomos avisadas que muita gente havia desistido da participação por causa da Gripe A. Sem problemas. O que importava é que lá estava. Logo em seguida, revejo um dos professores doutores que veio a Porto Alegre fazer um Seminário. Daqueles que fazem a gente saber por que resolveu ir em busca do título de mestre.
A manhã passou rápida, embora a palestra de abertura em espanhol em tom monocórdio e com uma pronúncia nada fácil tenha me feito sentir uma ignorante total desta língua estrangeira. Nada que o almoço no restaurante escolhido pelo meu orientador, na companhia de outra doutora em história não compensasse.
À tarde, já começava a “gincana”. Sim, porque tínhamos que nos dividir para tentar assistir as mesas de comunicação. Meio na obrigação, mas, sabendo que não haveria arrependimentos, fui ver meu orientador falar do que ele chamou de Eu, como o outro. Acabou. Corro para ir ver a apresentação de uma colega. Tudo tranquilo. Bem explicado. Começo a perceber que não eram necessárias minhas aflições. Eu estava pronta.
Final do dia. Consigo carona até o local onde vou ficar hospedada. Nada perto, por sinal, mas, a própria dona da residência vai me pegar na frente da Universidade, gentilezas que vão se prolongar durante toda a minha hospedagem. À noite panquecas, com direito a lareira e uma cama fofa. As duas crianças da casa me recebem de maneira gentil e afetiva.
Na manhã seguinte, outra carona e lá estou eu na frente da UDESC outra vez. Mais mesas de comunicação. Alguns temas bem curiosos e interessantes como o teatro de rua de Frederico Garcia Lorca “La Barraca”, os grupos de teatro negros e o teatro russo visto por um brasileiro, apresentado por Vera Collaço, doutora daquela universidade. Tinha mais coisas, mas, o que foi lido não memorizei. Apesar de achar o texto muito bem escrito e pensar que esta era uma boa opção de apresentação para quem fica nervoso. (Será?)
Noite na Lagoa da Conceição. Duas caipirinhas e muita batata-frita. Boas risadas. Gente. Muita praia e burburinho. Ainda não consigo voltar para casa sozinha. Também ninguém me explicou o que era TICEN, TITRI, TILAG, TISAN. Sou levada até um dos terminais e consigo outra carona dos meus hospedeiros até a casa. Banho e cama.
Manhã da apresentação. Minha colega acha que estou ansiosa, mas, o que acontece é que estou atrasada para a minha própria mesa, pois, os organizadores não haviam aparecido e saímos para tomar café. Felizmente, chego poucos minutos depois. Ninguém começou ainda. Estão apenas se organizando. Sou a terceira a falar. Ótimo. Aliás, falar não. Ler. Um texto coloquial. Quase uma conversa com slides. Apenas para não me perder já que o assunto é muito vasto e eu sigo apaixonada por ele. Parece que faz sentido já que quando termino todos começam a discuti-lo. Polêmica. Argumento algumas coisas, mas, me divirto com os comentários que vão surgindo. 15 pessoas na sala. A média daqueles que tiveram sorte de ter algum público. Almoço com gente bacana. Na tarde, um pouco de palestra e está na hora de fugir para ir ver as praias. A Jornada chegava ao fim algumas horas antes para mim.
Guiada pela minha colega que já morou na terrinha não há como se perder. Mas, depois de belíssimas paisagens e algumas fotos para registrar o momento, o sol se põe rápido e tento chegar a casa sozinha. Acabo pedindo ajuda pelo celular mesmo estando há poucas quadras do lugar. Sou resgatada de carro. Aliás, algo que parece imprescindível nas rodovias da cidade catarinense.
À noite, meu celular começa a dar sinal de vida. Minha irmã que está em Gramado me comunica: melhor roteiro Sergio Silva por Quase um tango. Melhor atriz: Viviane Pasmanter por Quase um tango. Eu em Santa Catarina e os Kikitos indo parar na mão do meu mestre amigo e da minha “irmã” na ficção.
Domingo. Dia de preguiça. A vizinhança prepara um churrasco para o qual acabo sendo convidada. Mais caipirinha. Boa conversa. Gente divertida e muito receptiva. Resolvo andar. Meu primeiro passeio por conta e risco. Muita distância em uma única rua. A paisagem? Incluo aqui a foto para terem uma idéia. Meu orientador também mora nesta rua. Não sabia disso quando consegui hospedagem na casa da filha de um amigo de meu pai. Assim como não tinha idéia de que me sentiria tão bem acolhida. Quem não acredita em sincronicidade? Na volta, na hora do jantar acabamos indo comer Tainha em um bairro próximo. Casas antigas. Sotaque português nas ruas.
Segunda-feira, dia da partida. Depois de dias esplendorosos de sol e céu azul, as nuvens aparecem. Vou para Floripa comprar a passagem. Caminho muito pela Beira Mar tirando fotos. Já despachei a mala por uma colega que voltou antes de carro. Compro uma mochila para guardar algumas coisas que ainda ficaram. Agora sim. Sou cidadã do mundo. Tênis, pouco peso, ruas gigantescas para andar muito e ver o mar. Cansada, de volta ao centro, vou ao mercado comer pastel de camarão e siri e mais caipirinha. A cada esquina uma surpresa. Uma casa portuguesa, uma catedral, um museu. Penso nas fotos lindas que minha irmã tiraria. A mim chama atenção, crianças mendigas na frente do prédio justamente da Secretaria da Fazenda ou do Museu da cidade em frente a uma lancheria multinacional. Contrastes.
Tento assistir a um espetáculo inscrito no Festival de Teatro que acontecia por lá. Não dá. Uma mistura de besteirol para criança com algo de mau gosto para os adultos. Melhor sair e tomar o rumo de casa. O céu já está escuro e a chuva já começou a cair. Desta vez, consigo chegar até o local onde está a minha cama (a qual até já arrumei, pois não dormirei lá esta noite), uma linda cadela preta e três gatos que convivem pacificamente. Algumas ligações depois e estou dentro de casa para tomar um ótimo banho quente e esperar os donos. Dia de pizza. Danças das crianças, ambos com muita energia e boas possibilidades de um futuro artístico. Mais uma carona até a rodoviária.
A viagem de volta já não foi tão tranquila. Fecho as cortinas da janela que parece que vai partir ao meio de tanto barulho. Um passageiro ronca no banco de traz e outro ronca no banco da frente. Chego em casa exausta. Aliás, ainda estou me recuperando de uma viagem em que tudo deu muito certo e todos foram muito agradáveis e simpáticos. Fazer o que? Ser feliz também consome energia.