Wednesday, August 19, 2009

Da serra ao litoral


Voltei de Gramado na segunda para viajar para Florianópolis na quarta à noite onde apresentaria o meu trabalho na Jornada Latino Americana de Estudos teatrais. Outras duas colegas estavam no mesmo ônibus. Não tenho problemas para dormir em viagens noturnas. Assim, três horas depois estava em Sombrio onde só acordei devido ao aviso do motorista. Já amanhecia quando comecei e ver a ponte Hercílio Luz. Com o apoio das colegas e de uma em particular que já havia morado por lá chegamos a UDESC. Eu com uma mala que já começava a parecer inapropriada nas roletas e nas escadarias da Universidade.

A inscrição não foi cobrada e já fomos avisadas que muita gente havia desistido da participação por causa da Gripe A. Sem problemas. O que importava é que lá estava. Logo em seguida, revejo um dos professores doutores que veio a Porto Alegre fazer um Seminário. Daqueles que fazem a gente saber por que resolveu ir em busca do título de mestre.

A manhã passou rápida, embora a palestra de abertura em espanhol em tom monocórdio e com uma pronúncia nada fácil tenha me feito sentir uma ignorante total desta língua estrangeira. Nada que o almoço no restaurante escolhido pelo meu orientador, na companhia de outra doutora em história não compensasse.

À tarde, já começava a “gincana”. Sim, porque tínhamos que nos dividir para tentar assistir as mesas de comunicação. Meio na obrigação, mas, sabendo que não haveria arrependimentos, fui ver meu orientador falar do que ele chamou de Eu, como o outro. Acabou. Corro para ir ver a apresentação de uma colega. Tudo tranquilo. Bem explicado. Começo a perceber que não eram necessárias minhas aflições. Eu estava pronta.

Final do dia. Consigo carona até o local onde vou ficar hospedada. Nada perto, por sinal, mas, a própria dona da residência vai me pegar na frente da Universidade, gentilezas que vão se prolongar durante toda a minha hospedagem. À noite panquecas, com direito a lareira e uma cama fofa. As duas crianças da casa me recebem de maneira gentil e afetiva.

Na manhã seguinte, outra carona e lá estou eu na frente da UDESC outra vez. Mais mesas de comunicação. Alguns temas bem curiosos e interessantes como o teatro de rua de Frederico Garcia Lorca “La Barraca”, os grupos de teatro negros e o teatro russo visto por um brasileiro, apresentado por Vera Collaço, doutora daquela universidade. Tinha mais coisas, mas, o que foi lido não memorizei. Apesar de achar o texto muito bem escrito e pensar que esta era uma boa opção de apresentação para quem fica nervoso. (Será?)

Noite na Lagoa da Conceição. Duas caipirinhas e muita batata-frita. Boas risadas. Gente. Muita praia e burburinho. Ainda não consigo voltar para casa sozinha. Também ninguém me explicou o que era TICEN, TITRI, TILAG, TISAN. Sou levada até um dos terminais e consigo outra carona dos meus hospedeiros até a casa. Banho e cama.

Manhã da apresentação. Minha colega acha que estou ansiosa, mas, o que acontece é que estou atrasada para a minha própria mesa, pois, os organizadores não haviam aparecido e saímos para tomar café. Felizmente, chego poucos minutos depois. Ninguém começou ainda. Estão apenas se organizando. Sou a terceira a falar. Ótimo. Aliás, falar não. Ler. Um texto coloquial. Quase uma conversa com slides. Apenas para não me perder já que o assunto é muito vasto e eu sigo apaixonada por ele. Parece que faz sentido já que quando termino todos começam a discuti-lo. Polêmica. Argumento algumas coisas, mas, me divirto com os comentários que vão surgindo. 15 pessoas na sala. A média daqueles que tiveram sorte de ter algum público. Almoço com gente bacana. Na tarde, um pouco de palestra e está na hora de fugir para ir ver as praias. A Jornada chegava ao fim algumas horas antes para mim.

Guiada pela minha colega que já morou na terrinha não há como se perder. Mas, depois de belíssimas paisagens e algumas fotos para registrar o momento, o sol se põe rápido e tento chegar a casa sozinha. Acabo pedindo ajuda pelo celular mesmo estando há poucas quadras do lugar. Sou resgatada de carro. Aliás, algo que parece imprescindível nas rodovias da cidade catarinense.

À noite, meu celular começa a dar sinal de vida. Minha irmã que está em Gramado me comunica: melhor roteiro Sergio Silva por Quase um tango. Melhor atriz: Viviane Pasmanter por Quase um tango. Eu em Santa Catarina e os Kikitos indo parar na mão do meu mestre amigo e da minha “irmã” na ficção.

Domingo. Dia de preguiça. A vizinhança prepara um churrasco para o qual acabo sendo convidada. Mais caipirinha. Boa conversa. Gente divertida e muito receptiva. Resolvo andar. Meu primeiro passeio por conta e risco. Muita distância em uma única rua. A paisagem? Incluo aqui a foto para terem uma idéia. Meu orientador também mora nesta rua. Não sabia disso quando consegui hospedagem na casa da filha de um amigo de meu pai. Assim como não tinha idéia de que me sentiria tão bem acolhida. Quem não acredita em sincronicidade? Na volta, na hora do jantar acabamos indo comer Tainha em um bairro próximo. Casas antigas. Sotaque português nas ruas.

Segunda-feira, dia da partida. Depois de dias esplendorosos de sol e céu azul, as nuvens aparecem. Vou para Floripa comprar a passagem. Caminho muito pela Beira Mar tirando fotos. Já despachei a mala por uma colega que voltou antes de carro. Compro uma mochila para guardar algumas coisas que ainda ficaram. Agora sim. Sou cidadã do mundo. Tênis, pouco peso, ruas gigantescas para andar muito e ver o mar. Cansada, de volta ao centro, vou ao mercado comer pastel de camarão e siri e mais caipirinha. A cada esquina uma surpresa. Uma casa portuguesa, uma catedral, um museu. Penso nas fotos lindas que minha irmã tiraria. A mim chama atenção, crianças mendigas na frente do prédio justamente da Secretaria da Fazenda ou do Museu da cidade em frente a uma lancheria multinacional. Contrastes.

Tento assistir a um espetáculo inscrito no Festival de Teatro que acontecia por lá. Não dá. Uma mistura de besteirol para criança com algo de mau gosto para os adultos. Melhor sair e tomar o rumo de casa. O céu já está escuro e a chuva já começou a cair. Desta vez, consigo chegar até o local onde está a minha cama (a qual até já arrumei, pois não dormirei lá esta noite), uma linda cadela preta e três gatos que convivem pacificamente. Algumas ligações depois e estou dentro de casa para tomar um ótimo banho quente e esperar os donos. Dia de pizza. Danças das crianças, ambos com muita energia e boas possibilidades de um futuro artístico. Mais uma carona até a rodoviária.

A viagem de volta já não foi tão tranquila. Fecho as cortinas da janela que parece que vai partir ao meio de tanto barulho. Um passageiro ronca no banco de traz e outro ronca no banco da frente. Chego em casa exausta. Aliás, ainda estou me recuperando de uma viagem em que tudo deu muito certo e todos foram muito agradáveis e simpáticos. Fazer o que? Ser feliz também consome energia.

Tuesday, August 11, 2009

Quase um tango é um dos seis selecionados entre mais de 80 filmes


Se não registrasse o que me aconteceu nestes últimos dias, este blog perderia um pouco a razão de sua existência. Afinal, como o próprio nome diz, ele foi criado para falar das coisas que me provocam quaisquer que sejam as emoções. Pois bem. Fiz minha inscrição como jornalista no Festival de Cinema de Gramado, como já faço há vários anos. Mas, quem acompanha a minha história sabe que eu sou uma freqüentadora deste evento mesmo antes de ser jornalista. Ainda estava na universidade quando comecei a ir para Gramado, uma cidade que freqüento desde pequena (meu avô veraneava lá) para assistir a uma semana de filmes, debates, tomando muito chocolate quente, vinhos e comendo aquelas delícias da serra. Era uma época em que ninguém conhecia Jorge Furtado, um carinha gaúcho que insistia em fazer cinema. Roberto Kovalick (agora no Japão) dava idéias de como poderíamos furar a festa de encerramento. Bem, mas, chega de falar do passado. Vamos ao 37º festival.

Embora inscrita, já começava a pensar que não seria possível estar presente. Com viagem marcada para Santa Catarina, onde vou apresentar meu trabalho na UDESC, achei que as agendas iam colidir e que seria impossível estar em dois lugares ao mesmo tempo. Mas, recebi a notícia de que o filme no qual participei (já disse outras vezes que entro muda e saio calada), ia passar no dia da abertura, enquanto eu ainda estaria por aqui. Assim, comecei a me convencer de que iria a cidade nem que fosse para passar o dia rodopiando. Mas, como quem não quer nada, liguei para o hotel onde estive o ano passado e tinha vaga. Fiz a reserva. Pronto. O local para dormir estava garantido. Agora, faltava apenas o ingresso. Felizmente, isso também acabou não sendo problema. Tem muita gente nova por lá organizando, mas, eles ainda sabem quem ama cinema, o que ao meu ver deveria ser o real passaporte para o Palácio dos Festivais.

Tomei a maior chuva o dia todo. Caminhei mais do que devia já que trocaram a sede do Festival do prédio da UFRGS para a Expogramado, mas, nada que uma sopa de capeletti e um cálice de vinho não resolvesse. Hora de tapete vermelho. Quem vai indo justamente na minha frente? Sergio Silva. Meu mestre. Diretor deste filme e acho que posso dizer: meu amigo. Chego perto dele, toco no ombro e ele se vira e diz: Dona Mello!! Bem, daí para frente tive a companhia dele e dos seus amigos Luis Paulo Vasconcellos, Sandra Dani e Araci Esteves. Gente por quem tenho admiração como atores e que estou começando a conhecer como pessoas. Alegres, divertidas e profundamente simpáticas, pelo menos, comigo. Por isso, era uma satisfação ver um deles se virar e me dizer: “vamos beber alguma coisa?”, “vamos entrar no cinema?”. Todo o resto era lucro. E teve muitos. Pela primeira vez em um quarto de século subi ao palco. Fiquei ao lado de Viviane Pasmanter e todo aquele elenco. Se tivesse previsto este fato, diria que era sonho e daqueles bem mirabolantes (Espero que as fotos, que ainda vão chegar, comprovem o contrário).

Bem, mas, devem estar esperando que eu fale do filme... Eu já tinha visto em uma prévia na casa do Sergio. Um momento que também foi bem significativo para esta relés mortal. Mas, ali ele estava acabado, fechadinho e na tela grande do cinema. Que delícia! Como antes, já tinha gostado da história e como o Sergio diz todo o tempo não é um filme com uma história extraordinária. É sobre a vida. Sobre o que nos acontece. Nossas alegrias, tristezas, medos. Li alguns comentários de pessoas que acharam tudo isso muito sem graça. Não estou entre elas. Não porque esteja no filme (aliás, o desafio será me encontrar), nem porque admire o diretor e nem...Mas, porque acho que a vida é muito interessante mesmo sem terremotos, sem queda das Torres gêmeas, sem a descoberta da cura da AIDS e acho que o Sergio soube contar isso de uma forma que, para mim, é uma homenagem ao cinema. Quem foi aluna dele reconhece em muitas passagens suas paixões, suas admirações por outros grandes mestres desta arte. Estão lá. Colocados de um jeito bonito, gostoso de ver. Por causa disso, não é a história que faz deste filme algo especial, mas, o jeito que ela está sendo contada. Acho que vai cair no gosto do público. Quanto as críticas que li, até agora, só pude achar graça. Afinal, há quem diga que Marcos Palmeira está terrível e que é Viviane Pasmanter que salva o filme. Logo adiante, um outro, diz exatamente o contrário: é Marcos Palmeira que leva todos os outros de arrasto. Questionam as escolhas do Diretor, comparam com Anahy de las Missiones (que depois de premiado ninguém ousa dizer nada de ruim), destroem até as cenas que eu achei absolutamente lindas: os sonhos e os pesadelos do protagonista. Ou seja, espero que entre em cartaz para que mais gente possa dar os seus palpites. A arte é para isso: provocar.

PS: Dá para ler meu nome nos créditos, isso eu garanto!

Friday, August 07, 2009

Ingênua e crédula eu? Nem tanto.

Bem, resolvi entrar aqui rapidinho para fazer um comentário que ainda pode ser útil. Todos sabem que eu tenho um certo fascínio pelas possibilidades de comunicação via internet. Quando tudo isso começou, estava trabalhando em uma empresa de informática, dirigida por um cara que desde cedo assistia Discovery Chanel quando eu via o que hoje seria a Ana Maria Braga. O tesão dele por maquinetas e geringonças me contaminou. E é, justamente, para falar de contaminação que resolvi escrever.
Devido a este interesse e a este contato de muitos anos com todo este mundo on line, aos poucos, fui percebendo que tem muita falcatrua e balela que acaba circulando por aí. Caem na mão dos desavisados e bem intencionados e se multiplicam de forma muito mais vertiginosa do que o vírus da Gripe A. E é isso que está acontecendo agora. Como se já não bastasse todos os grandes escândalos da política e a situação real da doença, ainda sobra espaço para pessoas que eu não considero apenas brincalhonas e irresponsáveis, mas, cruéis e com falta de caráter, que decidem espalhar as notícias mais alarmantes e bizarras.
Recebi agora há pouco um email da minha irmã e comecei a ler. Era um cópia e cola de uma conversa de msn que mesmo que pareça um espaço de diálogos banais, quem usa sabe que a gente acaba falando até de coisas que não falaria cara a cara. Pois bem, estas pessoas têm uma conversa sobre o que está de "fato" acontecendo na saúde do país. Nem vou entrar em detalhes, pois estaria também dando eco a esta gente que não merece nenhuma atenção.
O que gostaria efetivamente de dizer é que aprendi, ao longo destes anos de rede mundial de computadores, é devemos tentar verificar sempre que pudermos as informações, antes de pegarmos todo o nosso catálogo de endereços e de repassar. E garanto: não será necessário que você seja um repórter investigativo, com acesso a fontes secretas e especiais. A própria internet lhe dará as respostas. Bem, mas, porque estas serão confiáveis? Bom, eu tento ver de onde elas vem. As entidades e os veículos de comunicação até cometem erros também, mas, pelo menos, elas tentam evitar. E estas mensagens adoram colocr nomes, profissões, endereços, telefones. Tudo que nos faça pensar o quão real e dignas de confiança elas são. Assim, houve época em que eu ainda me prestava a pegar um telefone daqueles e ligar. Depois, passei a tentar mandar email para o endereço eletrônico que constava lá, aparentemente, disponível para qualquer esclarecimento. Confesso que hoje só faço este tipo de conferência para ajudar meus amigos e parentes a não cairem nesta esparrela. Paro o que eu estou fazendo para tentar conter estas bobagens que não contribuem em nada para este veículo tão incrível e poderoso que é a internet. Resumindo: sugiro cautela.

Monday, August 03, 2009

De espírito nu e coração aberto


Fui assistir a uma palestra em um centro espírita. Lá pelas tantas, notei que o palestrante estava com a braguilha aberta. Em seguida, percebi que outras pessoas também já tinham reparado. Não conheço bem o lugar. Muito menos as pessoas que são responsáveis pelas atividades, mas, cheguei a pensar em avisar o que estava ao lado daquele que falava só por imaginar como ele se sentiria quando percebesse.

Terminada a exposição, uma das pessoas na sala foi até ele e cochichou no seu ouvido. Ele sorriu. Agradeceu e vi que por baixo da mesa ele fechava a calça. Fiquei só imaginando como ele deve ter ficado constrangido. É um cara que fala bem. Estava explicando uma das parábolas de Cristo, bem complicada até. Mas, saber que fazia isso com a calça aberta não deve ter lhe deixado muito feliz. Mas, enquanto pensava que devia avisá-lo, ao mesmo tempo, dizia para mim mesma: que bobagem, que diferença isso faz? Não estamos aqui falando de desprendimento corporal? J

Depois disso, mil coisas me surgiram na cabeça. Naturalmente, relacionadas ao meu momento. Afinal, hoje, entreguei meu texto para a qualificação no mestrado. A próxima etapa é ficar diante de uma banca e explicar o que afinal de contas eu estou pesquisando e querendo com a minha pesquisa. Quanto ao conteúdo, acho que está bastante bom. Muita coisa ainda por fazer. Mas, acredito que esteja interessante. O problema é que quando pensamos em expor (e falo aqui no plural, pois, vejo que com os outros colegas acontece a mesma coisa) parece bem mais complicado.

Porém, comecei a pensar que eu poderia ser cega e ter que fazer esta exposição. Poderia ter que usar cadeira de rodas para chegar à sala. Poderia ter uma cicatriz ou uma queimadura no rosto, por exemplo. Ou me faltar um dedo da mão... Poderia ser vesga. Poderia ser gaga. E, se inventassem que deveríamos estar nus para a apresentação? Maluquice? E se o Zé Celso fosse o coordenador do pós? Bem, acho que já deu para ter uma idéia de quantas coisas poderiam dificultar bem mais.

No entanto, não tenho nenhum destes problemas. Tudo que vou ter que me preocupar é em saber do que estou falando. Bem, e para me ajudar a ter mais confiança pode ser bom vestir uma roupa bonitinha e não muito chamativa para não tirar o foco (nada de vermelho, snif, snif). Ah, e limpar o nariz e fechar as calças pode causar uma boa impressão também!

Conclusão: Nada de drama. O momento é bom! Favorável! Tudo dará certo! Aliás, tendo em vista que não terei que enfrentar nenhuma das coisas que falei acima para me atrapalhar, já deu.